A minha redacção bem podia ser uma carta mas estou confuso à farta por não saber a quem a dirigir se ao Menino de Belém se ao tal a quem chamam Pai Natal e esta dúvida que me inquieta também é por não saber qual a morada certa pois se soubesse a morada dos dois o assunto ficava arrumado e eu ficava muito mais descansado.
Para quem não tenha compreendido porque tenho andado confundido eu digo que quando usava lacinho me diziam e juravam a pés juntos que quem nos ama punha os presentinhos debaixo da cama e imitavam assim os reis magos que traziam ouro incenso e mirra e eu achava a isso graça mas pouca piada aos presentes pois aquilo com que gostava mais de brincar era com coisas de imaginar cavalgar ou voar e não de presentes que de tão antigos e raros lhes perdemos o sentido e do uso o tino.
Depois veio o tal Pai que dizem que não é “de Natal” porque então seria igual a qualquer pai nem é “do Natal” pois não consta que o velho tenha tido qualquer filho mas eu bem sei que o Pai Natal é que tem um pai do qual ninguém fala para não desfazer aquele encanto que senhores da publicidade sabem tão bem fabricar que até se passou a vender em tempos mais água mineral e coca-cola e que agora se vende de tudo e até se dá mais esmola.
Para este trabalho de casa recomendou-me a stôra para eu não me esquecer de dizer que esta é uma quadra santa onde a gente pede paz e não guerra nem faz maldades nem diz asneiras feias nem vê a casa dos segredos nem deve haver violência doméstica e deve-se sorrir aos pobrezinhos e dar-lhes saquinhos de massa grão arroz conservas e outras coisas para essa pobre gente compradas no Pingo e no Continente que são quase lugares santos que devemos santificar e que se escrever assim até os senhores do governo ficam a gostar mais de mim.
Pensando bem e esperando que mereça mais que um suficiente nesta minha redacção se ela fosse mesmo a tal carta pedia ao Menino e ao Pai Natal que mandasse à mesma hora todos os do governo embora e que pusessem os senhores da publicidade a dizer que Natal é “Quando Um Homem Quiser”.
Artigo publicado inicialmente no blog Conversa Avinagrada