Star Wars – O Despertar da Força
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Digamos que não são todos os dias que assistimos a uma antestreia com direito a um introito musical a cargo de uma orquestra de meia centena de instrumentos, neste caso para interpretar com gabarito o trecho do compositor John Williams que antecedeu a projecção de Star Wars – O Despertar da Força. Naturalmente, foi um entusiasmo redobrado para os convidados que encheram por completo a enorme sala do cinema S. Jorge, em Lisboa. Mas seriam também os próprios músicos, já na plateia, que haveriam de juntar ainda mais entusiasmo nos diversos aplausos que brindavam com a entrada em cena das personagens conhecidas. Percebia-se a ocasião histórica e o enorme prazer de estar a ver algo que há muito antecipavam. Nesse sentido, o novo filme de JJ Abrams sacia o enorme sentimento de nostalgia de que muitos ficaram reféns desde a estreia de O Regresso de Jedi, em 1983. Na verdade, algumas coisas nunca mudam, como refere a certa altura Han Solo para Leia Organa, no filme deste ano. Mesmo quando se vê um filme duas vezes no mesmo dia…
Podemos mesmo dizer que a Força está connosco, na revigorante e repensada saga que prolonga a acção da primeira trilogia. Por isso mesmo – e bem – se remete para um look retro, da narrativa inicial de George Lucas. Na verdade, lembro-me bem de ver O Regresso de Jedi, em êxtase, no cinema Império, num ecrã de 70 mm, hoje palco de outros cultos, e em sobressalto com a entrada do logotipo do filme O Regresso de Jedi e os acordes iniciais do imortal tema musical de John Williams, hoje ecoados por uma orquestra a sério. Uma sensação semelhante experimentáramos na sessão matinal de imprensa, na sala IMAX, em 3D.
São 135 minutos em que as personagens (e os actores) do original filme de 1977, mas também de O Império Contra-Ataca e, claro, O Regresso de Jedi, regressam ao futuro, naturalmente, com mais 30 anos. É, de resto, essa a premissa do novo guião, levar a acção três décadas mais adiante. Harrison Ford/Han Solo, Carrie Fisher/Princesa Leia, Chewbacca, C-3PO e mesmo R2D2 dão mostras desse tempo. Solo evidencia as marcas do tempo, ainda que mantenha o brilhozinho nos olhos, Leia, já mais gasta, mas ainda assim com a missão de liderar as forças rebeldes; Chewie sim mantém o pelo bem escovado e sedoso, sem grandes alterações nos grunhidos muito particulares, até mesmo C-3PO usa agora uma prótese para um braço; já R2D2 está em modo ‘stand by’, pois aguarda pelo ‘master’ Luke desaparecido. O ‘menino’ Skywalker é mesmo dado como desaparecido pelo genérico de entrada e será a missão da sua localização e resgate a razão de ser deste filme. A pista essencial é trazida pelo BB-8, um modelo de robot um pouco mais avançado (e que promete fazer as delícias de alguns este Natal, que puderem pagar os cerca de 130-150€ pela sua reprodução).
Mas O Despertar da Força não é apenas revivalismo. Até porque o sangue novo pulsa a bom ritmo. Neste caso, com a introdução das personagens de Rey e Finn, respectivamente interpretadas por Daisy Ridley, uma espécie de Keira Knightley endiabrada, a personificar uma sucateira que acabará por brandir um sabre de luz como ninguém, mas também John Boyega, um storm trooper arrependido que recebe o seu nome pelo piloto de X-Wing Poe Dameron (Oscar Isaac), destinado a resgatar o desaparecido Luke Skywalker. Mas temos ainda, um Domhnall Gleeson imponente, como ditador da nova força negra, a Primeira Ordem; veremos ainda o veterano Max von Sydow, mas teremos dificuldade em identificar Lupita Nyong’o, por detrás da sua máscara, e, definitivamente, Andy Serkis só por sabermos que faz parte do casting, como a figura imponente do Líder Supremo. Por fim, Kylo Ren como um vilão que, naturalmente, nos fará recordar Dark Vader, até porque também terá um assunto familiar por resolver, mas que se afirma como uma personagem mais complexa nas suas motivações, deixando, por assim dizer, pano para uma evolução.
Assim se deseja, sobretudo se Lawrence Kasdan permanecer no apoio ao guião, ele que começou por participar como guionista em O Império Contra-Ataca e depois em Jedi. Por isso mesmo, é natural que sintamos o perfume dos filmes anteriores e que seja ele a operar esta ligação três décadas depois dos acontecimentos desse filme, e que nos apeteça bater palmas ao ver os caças X-Wing a enfrentar os TIE fighters, mas sobretudo ver Han Solo a trepar aos comandos da sua Millenium Falcon, uma nave que ainda está para as curvas…
Afinal de contas, o receio de seguir com bondade um filme que se esticava por merecer a presença neste círculo acabou por se esfumar logo na sequência inicial. É como se a saga anterior, os seja, os episódios I, II e III, passasse como um hiato, para fazer essa espécie de regresso, mas ao futuro. Gostámos muito do que vimos, de um guião em que as personagens participam numa acção feita para agradar aos fãs, mas em que não está excluído o humor, nem os dilemas psicológicos de envolvência familiar, afinal de contas como no ADN inicial. Ou seja, um JJ Abrams que soube estar à altura dos acontecimentos, de resto, como já havia feito em Star Trek. Ficamos agora à espera do que fará Rian Johnson, actualmente em rodagem do Episódio VIII, cuja estreia está prevista para 2017. Colin Trevorow, outros dos realizadores calhados em garantir blockbusters de ficção científica (Mundo Jurássico), deverá pegar no episódio XIX. Sim, agora que a Força despertou, esperemos que se mantenha connosco!
Nota: A nossa opinião (de * a *****)