Por razões profissionais, grande parte da minha atividade quotidiana tem estado relacionada com o estudo das religiões – e, por isso mesmo, com a incapacidade de ter uma, por opção individual muito evidente; também com o estudo do fenómeno religioso – que cresce de uma maneira difusa em muitos pontos do mundo, gerando novas realidades nem todas muito consistentes; e ainda com o comportamental e com o cognitivo, individual e coletivo, do tecido social, o que significa uma relação estreita com o âmago do que é político, sociológico, ou melhor, inequivocamente cultural.
A Religião é objeto de estudo dos mais interessantes. E o direito à liberdade religiosa, como uma das liberdades garantidas no mundo em que vivemos, tornou-se-me tema obrigatório. Foi isso que me levou a criar, com um pequeno grupo de pessoas, o Observatório para a Liberdade Religiosa que tem pouco tempo para respirar, dadas as exigências que todos os dias se lhe deparam.
Como pessoa ligada ao ensino, das mais diversas formas, há muitos anos, cedo percebi que é pela educação e pelo ensino que a harmonia se estabelece. É certo que nos últimos anos somos muito mais habilitados – embora nos falte muita coisa: empresários cultos; mais licenciados, mais mestres, mais doutorados, mais sistemas operacionais para usar, utilitariamente, o que as escolas ensinam – o que equivale a qualificar a mão de obra e a recuperar o atraso face à média europeia, que só nos leva à palma porque por um lado temos como característica cultural o pessimismo (e a inércia que dele ressalta), que nos deixa emitir juízos de valor no canto do sofá que já tem os contornos das nossas nádegas, literais e mentais. Precisamos de muito mais conhecimento – e de saber o que fazer com ele. E de uma vacina para o contágio: é a nossa maneira de ser, muitas vezes derrotista, que impede muitas coisas.
Quando agimos, melhoramos. Veja-se o que aconteceu nos últimos anos: do beija mão à Troika a um conjunto de atitudes corajosas que nos devolveram um pingo de dignidade.
Ao estudar a Religião, estudamos o mundo. E o mundo não está bem.
A esquerda política envergonhou-se dos excessos que alguns cometeram em seu nome; a direita política faz disso o finca pé, único, para trepar e criar um mundo onde os mercados, os radicalismos, a falta de humanismo são a marca.
A verdade é que poucos somos os que se reconhecem nesta dicotomia: esquerda, direita, um dois, marcha que para. Só a formação pode ter peso na dimensão económica do próprio e do país.
Perguntarão: mas o que tem este raciocínio que se cruze com o estudo das religiões – com o estudo do cultural?
Quase tudo. Os povos que se respeitam são aqueles que chegaram a estádios culturais mais interessantes. Já agora, os que mais investem em Inovação e Desenvolvimento são os mais inovadores, os mais desenvolvidos, os mais ricos. Coabitam, independentemente daquilo em que acreditam. Trazem, como muitas religiões, o Homem para o centro das opções.
O caminho do Humanismo aproxima-nos. E juntos temos mais força, se a cultura nos explicar como viver juntos.
Vemos um mundo desorientado. Descrente. Com uma cultura do egoísmo e do individual sobre o indivíduo. Com o Ego(ismo) contra o Eco(lógico). O triunfo da imbecilidade e dos imbecis pode ser travado. Mas é necessário perceber distinguir uma e outros. Eu faço-o a estudar algumas áreas. E aquele que me lê? Espero que tenha chegado à última linha sem sacudir os ombros, indiferente, ou sem rodar as nádegas no sofá da sua rendição.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90