Depois de eleito para presidente do Eurogrupo, Mário Centeno foi agora eleito o “Ministro das Finanças do ano” pela revista “The Banker”.
São designações que premeiam a indiscutível qualidade do nosso Ministro das Finanças mas que, paradoxalmente, lhe traçam os seus limites, porque nenhum dos prémios lhe teria sido atribuído acaso ele tivesse tido alguma veleidade de reformar o sistema financeiro em que vivemos.
1. O “super-Mário” e os seus limites
A verdade é que um Ministro das Finanças de uma pequena economia periférica profundamente endividada como a portuguesa, por definição, dificilmente pode bater o pé a quem quer que seja e o melhor que pode fazer é o que Mário Centeno fez, mostrar que é possível gerir o quotidiano com mais inteligência e bom senso do que o que fizeram os seus antecessores.
Posto isto, nada de essencial foi resolvido ou ultrapassado nas dificuldades que enfrentámos. O problema maior nem é o da monstruosa factura passada aos cidadãos pela gestão ruinosa da banca portuguesa, mas é o facto de a impunidade com que isso foi feito convidar à repetição das mesmas acções.
No domínio das “Parcerias Público-Privadas” tão pouco se reformou o que quer que seja com Portugal realmente ainda mais endividado do que mostram os números oficiais da dívida, através de contratos que hipotecam o nosso futuro.
Foi depois criada a ideia de que todos os que são pagos pelo Estado têm direitos perpétuos e que se trata agora de os recuperar plenamente sem olhar a possibilidades, responsabilidades e equilíbrios. Aqui ganhou especial importância a acção profundamente demagógica do nosso Presidente da República – com a agravante da sua falta de decoro ao clamar contra o populismo – que resolveu interferir num processo de enormes consequências orçamentais como se não se tratasse de um problema orçamental.
Tudo isto me leva a concluir que o nosso “Super-Mário” atingiu os seus limites. Agora, no interesse da preservação dos seus interesses pessoais pode ir-se embora, ou então pode decidir ficar, mas aqui, só com poderes acrescidos, e desfazendo o mito de “Pai Natal” com que continua a ser visto.
2. O adeus ao “super-Mário” europeu
O outro super-Mario, de quem dependeu a recuperação da economia europeia dos últimos anos, Mario Draghi, vai terminar o seu mandato em apenas alguns meses, sendo que terminou já o seu emblemático programa de compra de activos, programa que o Banco Central Alemão declarou já estar pronto a usar todos os meios legais ao seu alcance para evitar que venha a ser ressuscitado.
O enorme vazio provocado pela saída deste super-Mario acontece na mesma altura em que a ‘patroa da Europa’, Angela Merkel, se retira; que Macron arruinou qualquer possibilidade de dirigir a Europa; e que o Reino Unido se auto demitiu de qualquer função europeia ou mesmo internacional.
Em contrapartida, temos a crescente vaga denominada de ‘populista’ que abarca movimentos heteróclitos por trás dos quais perfilam alguns interesses antieuropeus como os de Putin e onde não existe nenhuma alternativa europeia clara. É bem possível que as eleições europeias de Maio venham a dar a maioria ao conjunto destes movimentos ou, mesmo se o não fizerem, venham a produzir uma maioria de continuidade de tal forma frágil que se torne totalmente inoperacional.
Como avisou o actual Presidente da Comissão Europeia, é possível que as eleições europeias não venham a produzir nenhuma maioria estável e que ele se sinta ‘obrigado’ a prolongar o seu mandato, o que penso que ninguém vê como garantia de estabilidade, mas bem pelo contrário , como sinal acrescido de crise.
3. A navegação na borrasca internacional
Estas enormes dificuldades nos percursos nacional e europeu vão ser ainda acentuadas pela instabilidade internacional. Nesse plano, os EUA afirmaram por um lado que o seu apoio incondicional à Europa tinha terminado e que por outro estão agora claramente comprometidos com uma estratégia de contenção do avanço geopolítico chinês.Quer isto dizer que a estratégia europeia – e muito em particular portuguesa – de estar bem com Deus e o Diabo atingiu os seus limites,
Penso também que a visão europeia de que se trata apenas das idiossincrasias de Donald Trump, e que após ele os EUA vão retomar a linha de rumo seguida pelas administrações americanas desde Carter, é um equivoco, e que seja quem for que suceda a Donald Trump é impossível voltar a Obama e à sua política suicida, e que no essencial se manterá esta nova linha de rumo.
Quer isto dizer que vamos ter pela frente uma borrasca internacional na qual a navegação nacional e europeia será substancialmente mais complicada e que não será compatível com o Portugal adormecido que encetou este ano de 2019.