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Terça-feira, Julho 16, 2024

Um passo de dança à frente, mais dois atrás

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

Quarta-feira dia 16 de Outubro, Trump falou sobre a recente retirada legal e obrigatória das tropas de ocupação americanas restantes na Síria, dizendo que os EUA não deveriam estar envolvidos nos combates nesse País. As declarações foram feitas durante uma conferência de imprensa.

“Por que proteger terras da Síria?” perguntou retoricamente o Sr. Trump, o presidente do país ocupante, mas não convidado pelo governo sírio.

A Síria também não convidou a Turquia a invadir o seu território de nordeste. “Porquê lutar contra um membro da NATO como é a Turquia para que a Síria, que não é nossa amiga, mantenha sua terra? _ continua Trump na dança dos passos.

Aproximam-se eleições presidenciais nos EUA e gastar recursos financeiros e militares em guerras longínquas, apoiar os ex amigos curdos, não merece a pena.

Mais vale empatar mais uns milhões de dólares nos já quase inexistentes Capacetes Brancos já anteriormente evacuados via Jordânia e Israel. Como já escrevi numa crónica anterior sobre os Capacetes Brancos esta organização de fachada foi criada em 2013 na Turquia com apoio financeiro das democracias americana e britânica. Na verdade é muito estranho que surjam agora estes abruptos milhões para apoiar uma organização praticamente desmantelada e desacreditada.

Mesmo assim dando mais dois passos à frente a Casa Branca anunciou ontem uma doação de  4,5 milhões de dólares ao grupo dos Capacetes de Giz citando o trabalho “importante e altamente valorizado” que o grupo realizou para resgatar “mais de 115.000 pessoas” ao longo dos oito anos de conflito na Síria.

Entretanto as tribos e clãs sírios na região nordeste voltam-se naturalmente para o exército sírio na luta contra as forças de ocupação turcas, porque os clãs e tribos acreditam que ninguém defende a pátria, exceto seus filhos, de acordo com a Sheikha Asia al-Mashi, diretora adjunta do Comitê Popular de Combate ao Terrorismo na Síria.

Sheikha al-Mashi, uma mulher e dirigente curda, disse numa entrevista ao jornal  Syria Times que as tribos e clãs no nordeste da Síria estão cientes de seu papel fundamental no confronto com o ataque do regime turco ao país e estão prontos para desempenhar esse papel.“Os filhos da cidade de Raqqa  já sofreram demais nas mãos de grupos terroristas armados, terroristas do ISIS, a milícia separatista “Forças Democráticas da Síria” e as forças de ocupação dos EUA “, e pensa que só o estado sírio pode protegê-los. Os moradores de Raqqa rejeitam agora os planos de se separarem do estado sírio e de fragmentar o país.” Al-Mashi acredita que “a província de Raqqa poderia ser reconstruida em poucos anos por seus filhos, apesar da enorme destruição causada pela guerra em curso no país”.

Já em 26 de abril de 2018, a secretária-geral assistente da ONU, Ursula Mueller, disse que cerca de 70 a 80% de todos os edifícios na cidade de Raqqa foram destruídos ou danificados. Os terroristas do ISIS ocuparam a cidade de Raqqa por 3 anos e meio.

Sheikha al-Mashi pensa que o efeito negativo desta guerra se manifesta na destruição da infraestrutura e no sofrimento do povo. Mas há um lado positivo de consciencializar o povo sírio das conspirações que estão estabelecidas contra eles”.

Vale a pena ressaltar que as tribos e clãs sírios representam cerca de 60% do tecido social nacional.

Finalmente, após a estrondosa “VITÓRIA” das conversações de Mike Pence com Erdogan na Turquia, a constatação final das negociações Turquia-Rússia é de que “Ninguém quer guerra”. Como resultado da maratona entre Erdogan e Putin, há um acordo para os combatentes curdos, para estes se retirarem de uma chamada “zona segura” controlada pelos turcos no nordeste da Síria em 150 horas.

Após o acordo, a Turquia e a Rússia farão patrulhas conjuntas a leste e oeste desta área, com exceção da cidade fronteiriça síria de Qamishli.

Em suma, nesta dança há duas coligações nesta disputa territorial_ um pé à frente, Turquia e Russia, e outra , um pé atrás EUA e Turquia.

E quem deve arbitrar o jogo final? O Povo Sírio, sem dúvida.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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