Antologia poética dedicada ao músico Evaldo Rosa dos Santos, assassinado há um ano por 80 tiros disparados por soldados do exército, reúne poemas de Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Armando Freitas Filho e outros autores
Evaldo Rosa dos Santos, músico, 51 anos, foi executado no dia 7 de abril de 2019, quando viajava com a esposa e o filho de sete anos de idade na estrada de Camboatá, em Guadalupe, no Rio de Janeiro. Evaldo, que dirigia o carro em direção a um chá de bebê, foi alvejado por 80 balas de fuzil AR-15, disparadas por dez soldados do Exército Brasileiro, que não fizeram nenhuma sinalização ou advertência ao motorista do veículo, antes de dispararem suas armas.
“Calma, amor, é o Exército”, disse a esposa de Evaldo, quando a primeira rajada atingiu o carro da família. Na mesma operação, considerada “desmedida e irresponsável” por Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha, do Superior Tribunal Militar (STM), faleceu também o catador de papeis Luciano Macedo, que tentou prestar socorro à família do músico. A ação insólita do grupo de militares teria ocorrido porque Evaldo – que era negro – foi confundido com um “assaltante” pela tropa.
O caso chamou a atenção da imprensa brasileira e internacional, mas foi minimizado pelas autoridades. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, considerou-o um triste “incidente”, e o presidente Jair Bolsonaro, ex-capitão eleito com uma plataforma política de extrema-direita, declarou, cinco dias após o fuzilamento, que “o Exército não matou ninguém. O Exército é do povo”. Os juízes do Superior Tribunal Militar, por sua vez, decidiram, por 11 votos a favor e três contra, pela libertação dos soldados envolvidos, após breve detenção dos réus.
A repercussão do trágico episódio nas redes sociais despertou a atenção de poetas brasileiros, que escreveram os poemas reunidos no livro 80 Balas, 80 Poemas. Há colaborações de Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Armando Freitas Filho e outros poetas. É um tributo à memória de Evaldo, Luciano, Marielle, Anderson e de todos os negros, índios, mulheres, homoafetivos, opositores políticos, estudantes, trabalhadores rurais e urbanos vítimas de violência policial e militar no Brasil desde o golpe de Estado de 2016 e a instauração do regime autoritário no País.
A obra, organizada pelo poeta Claudio Daniel, está disponível em versão digital de 80 Balas, 80 Poemas. A versão impressa será publicada pela editora Demônio Negro.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado