Políticos, comentadores e jornalistas têm falado depreciativamente sobre o facto de a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, ter surgido em público com os olhos marejados de lágrimas e não ter escondido a emoção…Políticos, comentadores e jornalistas têm falado depreciativamente sobre o facto de a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, ter surgido em público com os olhos marejados de lágrimas e não ter escondido a emoção no Parlamento quando considerou o dia “pior da sua vida” aquele em que deflagrou o incêndio em Pedrógão Grande. Diria até que em alguns comentários notei uma ironia e uma displicência na maneira de se referirem à emoção manifestada pela ministra como se se tratasse de coisa “de mulheres”, como quem diz, “quem chora em público não serve para ministra”.
Recordo-me de o Presidente Jorge Sampaio chorar frequentemente e mesmo o actual Presidente estava emocionado e com lágrimas nos olhos quando em Pedrógão abraçou o secretário de Estado e lhe afagou a cabeça, ele também emocionado. Mas alguém os acusou de “fragilidade”? Não, claro, são homens e esses podem chorar que isso é mesmo elogiado como prova de humanidade, proximidade, etc..
Na “caça” à ministra a que estamos a assistir alguns questionaram até a sua competência e as suas qualificações para o cargo. Ora, poucos políticos terão um currículum tão apropriado para o cargo como Constança Urbano de Sousa. O que acontece é que a ministra não tem experiência política e por isso os críticos a consideram “frágil”, o que não deixa de ser contraditório com a ideia de que os políticos não têm credibilidade mas depois quando um não político ocupa um cargo governamental é alvo privilegiado dos políticos, dos comentadores e dos jornalistas por não ter a experiência… política. O mesmo acontece com Mário Centeno e agora com Azeredo Lopes.
Não está aqui em causa se a ministra Constança deve demitir-se ou não. Pessoalmente penso que numa situação como a que se viveu nos dias da tragédia demitir-se seria uma irresponsabilidade, uma atitude demagógica para fazer o gosto aos jornalistas e à direita que “querem cabeças cortadas”, na hora. Aliás, querem tudo na hora mas depois desprezam informações que contrariem ou questionem a sua própria visão dos acontecimentos. Por exemplo, poucos salientaram a importância do relatório do IPMA que concluíu de forma indesmentível que
Há provas de que um dos downbursts atingiu o incêndio que já tinha começado no concelho de Pedrógão Grande, uma coincidência nunca antes registada no país. Por causa dessa corrente de ar descendente extremamente forte, o incêndio foi oxigenado e empurrado pelo vento. Espalhou-se a grande velocidade — quase triplicando de dimensão — e chegou à estrada nacional onde morreram 47 das 64 pessoas que perderam a vida nesta tragédia.
Honra seja feita ao Público que fez manchete com a informação.
Na era das fakenews não basta desmascarar as falsas notícias; é também necessário desconstruir e identificar as omissões nas notícias verdadeiras.
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