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Segunda-feira, Novembro 4, 2024

Uma escola luso-timorense esquecida nas montanhas de Timor-Leste

J.T. Matebian, em Timor-Leste
J.T. Matebian, em Timor-Leste
Correspondente em Timor-Leste.

O professor Rui Chamusco chegou de Portugal no dia 4 de Março de 2023. É a quarta estadia que faz em solo timorense. O “Jornal Tornado” foi informado da importância da sua visita, e quis saber, do próprio, as razões do seu regresso a Timor-Leste.

JT – Professor Rui, a que se deve este seu novo regresso a Timor-Leste?

Professor Rui – Antes de mais quero dizer que é sempre uma grande alegria voltar a este país irmão, com lindas paisagens e sorrisos de encantar de simpatia incomparável, com lindas paisagens e sorrisos de encantar.

Esta minha visita está relacionada, sobretudo, com a sustentabilidade da Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”, que a Associação de Amigos Solidários com Timor-Leste (ASTIL) ajudou a construir, como principal obra de um projeto de solidariedade.

Pode contar-nos como surgiu esse projeto?

PR- Este projeto tem como ponto de partida uma conversa informal entre dois amigos – Gaspar Sobral (timorense residente em Portugal), e eu próprio, em 2015.

O amigo Gaspar manifestou-me o seu grande desejo de construir uma escola na terra dos seus ascendentes em Boebau, pois na visita que lhes fizera em 2000 verificara que havia muitas crianças sem escolaridade. De imediato, eu como professor aposentado e livre de obrigações, anui ao seu desejo, respondendo prontamente: “conta comigo.”

Esta ideia foi crescendo e, em Fevereiro de 2016, decidimos vir a Timor visitar a localidade de Boebau (Liquiçá) e tomar conhecimento desta necessidade. O Chefe de Suco informou-nos, através dos cadernos de registo, do número de crianças que aí viviam. Mais ou menos 400, das quais só 111 iam às escolas mais próximas. Por consulta presencial, o povo pediu que fosse construída uma escola. E assim fizemos.

Em 19 de Março de 2018 foi inaugurada a “Escola São Francisco de Assis – Paz e Bem”, com a presença de gente muito importante (Embaixador de Portugal, representante do Núncio Apostólico, Director da Escola Portuguesa de Díli, coordenador da Caixa Geral de Depósitos, Directora da Fundação Oriente, Director da Educação do Município de Liquiçá, Diretor da Polícia Municipal, e muitos amigos e povo de Boebau e Manati.

Desculpe Prof. Rui. Passados cinco anos após a inauguração da ESFA (Escola São Francisco de Assis), qual é a situação atual? Quantos alunos a frequentam e quais são as dificuldades que se apresentam para a sua funcionalidade?

PR – Este ano frequentam a ESFA 88 crianças no ensino pré-escolar e primário. Com muito esforço a ASTIL de Portugal e a ASTILMB (Manati/Boebau) têm conseguido manter a escola em funcionamento, graças ao voluntariado de amigos portugueses e timorenses. As crianças que a frequentam são todas oriundas de famílias pobres, e por isso tudo é gratuito excepto o pagamento de ordenados aos professores. Ainda não temos professores portugueses ou timorenses destacados pelos ministérios de educação. Muitas promessas, muitos aplausos, mas nada de concreto que nos ajude a encontrar uma solução. Este é o nosso grande problema, que urge resolver. Disto depende a sustentabilidade da ESFA.  Pedimos encarecidamente que nos ajudem. SOS!

Rui Chamusco falando com os alunos da ESFA

JT – E já houve contactos em ordem a resolver este problema?

PR – Sim. Procuramos junto das mais diversas instâncias, a saber: Ministério da Educação em Portugal e em Timor-Leste, Gulbenkian em Portugal, CAFE em Timor-Leste, Presidência da República Portuguesa, Instituto Camões… A tantas e tantas portas que temos batido! Infelizmente, embora todos aplaudam e teçam louvores a este projeto de solidariedade, até agora ainda ninguém apresentou uma decisão favorável.

Em 11 de Dezembro de 2019,  foi-nos proposta uma solução pelo actual Ministro da Educação de Portugal, então Secretário de Estado da Educação, o Sr. Dr. João Costa, que muito nos agradou: “a Escola São Francisco de Assis em Boebau/Manati será um polo da escola portuguesa de Díli”. Por razões (des)conhecidas, essa proposta não se concretizou. Continuamos esses contactos em Portugal e em Timor-Leste, e este é o principal motivo pelo qual eu  me encontro neste momento em solo timorense. A luta continua. Partirei muito triste se não conseguirmos resolver este problema. Porque os assuntos não se resolvem só com aplausos mas com soluções concretas. Iremos até onde for necessário, sem medo nem vassalagens.

Quero também informar de que, para facilitar a presença dos professores, foi construída uma residência e estamos a negociar a aquisição de um meio de transporte (picup). Tudo temos feito para que o projecto continue, em prol deste povo do interior do País, que parece bastante esquecido.

Admiramos a sua coragem, assim como a de todos os sócios e amigos da ASTIL. É preciso gostar muito de Timor-Leste para investirem desinteressadamente as vossas economias, o vosso tempo e as vossas vidas num projecto solidário de educação, em que as crianças mais pobres das montanhas de Boebau e Manati são as beneficiárias.

Este jornal estará sempre disponível para colaborar convosco no encontro de uma solução.

PR – Agradeço a vossa disponibilidade e serviço. Com certeza que daremos notícias do desenvolvimento deste assunto. E, como cantam as crianças no hino desta escola “A Escola de São Francisco / Um projeto de Paz e Bem / Para o povo de Boebau-Manati / Um presente que a gente tem”, seria para todos nós um fracasso que, por falta de colaboração dos Ministérios na colocação e destacamento de 3 professores, esta escola fechasse e o nosso projeto de solidariedade tenha de acabar. Esperamos ansiosamente por um acordo de colaboração vindo seja do ministério de educação de Portugal, seja do ministério de educação de Timor-Leste.

Desejamos continuar a alimentar e a desenvolver a amizade e a fortalecer os laços que caracterizam os nossos povos, os nossos países Timor-Leste e Portugal.

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