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Quarta-feira, Julho 17, 2024

Uma janela do tamanho do meu assombro

Filipa Vera Jardim
Filipa Vera Jardim
Mantém o blogue literário “Chez George Sand” onde escreve regularmente.

Poema de Filipa Vera Jardim

Uma janela do tamanho do meu assombro

A casa era ampla. Divisões serenas que se entrecruzavam num emaranhado de portas, abertas, para coisa nenhuma que não fossem os seus próprios passos.
Breves e objectivos esses passos.

De um lado o lugar de ficar. Do outro, o de permanecer…
Não havia nenhuma exiguidade. Nem sequer de noite, quando as sombras, num o ritual dançante se faziam deambular pelos corredores imensos.
Foi assim, até exactamente três terços da sua vida.
Os passos registados num “contador de passos” que servia ao mesmo tempo de guardador de histórias. Pelo menos daquelas que se movem.
Dois mil e trezentos passos para a direita e o dia seria de ficar. Mais do que isso e, no sentido contrário do corredor, que terminava numa esquina desgrenhada, e o dia seria de permanecer.
Nunca gostou de esquinas desgrenhadas. Travavam-lhe o andar e possibilitavam-lhe um quase horizonte. Não muito largo, mas ainda assim um horizonte.

Nesse dia, em que completou três terços da sua existência, sentou-se na beira da cama e não conseguiu andar…os pés imóveis no chão frio, de pedra. O contador de passos: inerte.
Ainda teve tempo de chamar o seu único amigo:
– Corre Jorge, vem depressa. Rasgar-me uma janela do peito ao infinito e com o tamanho do meu assombro.


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