Enquanto especialista em educação interpreto esta chamada de atenção como algo de muito positivo e que deve merecer, sem preconceitos, a melhor atenção de governantes, docentes, reitores, estudantes e de todas as forças vivas económicas, culturais e religiosas da nossa sociedade, por uma razão muito simples, este problema é de ordem conjuntural e estrutural.
Efectivamente, quando a qualidade da oferta formativa das nossas Instituições de Ensino Superior é questionada publicamente por um alto dirigente político, note-se, supervisor do planeamento estratégico nacional, significa que a situação está muito grave e o Estado timorense constatou que muitos dos nossos diplomados não possuem as competências e os conhecimentos científicos necessários para responderem com eficácia aos desafios da sociedade e ao desenvolvimento económico do País.
Quando estamos a pensar na qualidade do ensino superior deve colocar-se de imediato o problema da perspectiva e da significação do próprio conceito. Qualquer cidadão que não seja profissional da educação, compreensivelmente, poderá ter uma visão menos adequada sobre a qualidade de uma universidade, com análises redutoras, muitas vezes confinadas à problemática da competência dos docentes, contudo, há aspectos fundamentais que não podem ser descurados em qualquer processo de análise da qualidade do ensino superior.
Para além da qualidade imprescindível do corpo docente, há outras dimensões a ponderar que se entrecruzam, internas e externas ao sistema, e quando falamos em qualidade, principalmente se o que está em causa é a educação, temos que questionar, também, que tipo de qualidade nos interessa.
Mais do que isso, temos que saber se essa qualidade irá ser usufruída por todos os cidadãos timorenses, das zonas rurais e das zonas urbanas, e vai fazer deles cidadãos competentes, com pensamento crítico, com capacidade científica e técnica, com valores e princípios de ordem cultural, social e ética, para que possam de forma digna e competente serem úteis a uma sociedade do conhecimento verdadeiramente justa, democrática e solidária.
Em contexto educacional, ao abordarmos a problemática da qualidade, para além da importância das metodologias de ensino-aprendizagem, temos que considerar os recursos didácticos, a oferta dos serviços académicos, o bom funcionamento das instalações, a pertinência das políticas educativas, o currículo, ou seja, a mudança que devemos defender para o nosso ensino superior em Timor-Leste terá que depender de múltiplas dimensões, e do grau de qualidade de cada uma dessas dimensões, pelo que, é imperioso assumirmos que a abordagem à universidade deve ser complexa e multidimensional.
Visão complexa e multidimensional
Em contexto de universidade, seguindo a linha de raciocínio de Zabalza (2007), devemos admitir que existem múltiplas dimensões que se cruzam entre si, em dois espaços, um interno, e outro externo.
Ao nível do espaço interno, a mudança qualitativa de qualquer universidade só acontecerá se houver um aproveitamento de sinergias centrado nas «Competências do Professor Universitário e dos Funcionários não docentes», na «Instituição/Comunidade de Formação», na «Inovação Curricular e Pedagógica» e nos «Estudantes», para citar apenas estas dimensões fundamentais que exercem influência directa sobre a qualidade da «Docência».
Por outro lado, em entrosamento com o espaço externo à universidade devemos considerar, sempre, as dimensões da «Ciência, Investigação e Cultura», do «Mundo do Trabalho e Sociedade», das «Políticas de Educação Superior» e da «Avaliação Institucional e Acreditação».
Políticas de educação superior e avaliação institucional e acreditação
No pressuposto de que é válida esta visão complexa e multidimensional da universidade, começo por destacar a vertente das “Políticas de Educação Superior”, pois, é indiscutível, o sistema educativo de qualquer País, composto por um conjunto de estruturas e processos necessários a garantir o sucesso educativo, também é constituído por inúmeros actores, e alguns deles são os protagonistas da concepção das políticas educativas e dos normativos que supostamente, mas nem sempre isso acontece, devem garantir o bom funcionamento da máquina educativa, com eficácia e eficiência.
As políticas de educação superior só serão válidas se reflectirem uma linha orientadora que se baseie no estado actual do desenvolvimento da nossa educação superior e transporte consigo uma visão, uma missão, objectivos e metas que se enquadrem num projecto social globalizante que tenha como fim último o humanismo, a solidariedade e a justiça social.
A esta dimensão externa que apelidei de “Políticas de Educação Superior”, deveremos acrescentar a “Avaliação Institucional e Acreditação”, uma vertente também do espaço externo, regulada pelo Estado, por vezes de forma menos correcta, em especial, como já referi, em virtude do conceito de qualidade ser polissémico, com várias interpretações, e dinâmico, o que torna difícil a comunicação entre os diferentes actores envolvidos no processo de avaliação institucional e acreditação.
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