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Quinta-feira, Dezembro 26, 2024

União Europeia em risco de desintegração, diz jornalista germânico

refugiados
O jornalista alemão Wolfgang Münchau escreveu um artigo de opinião no Financial Times acerca da crise dos refugiados que atingiu a Europa. Com o título “A Europa entra na era da desintegração”, o autor não augura um fim formal da União Europeia, mas uma Europa menos unida e efectiva.

Münchau acredita que “existe uma possibilidade real do sistema fronteiriço europeu e de controlo da imigração colapsar em dez dias” e lembra que a 7 de Março, os líderes europeus reúnem-se em Bruxelas com o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, para persuadir Ankara no que a Grécia falhou: travar o fluxo de imigrantes e proteger a fronteira mais a sul da Europa.

O autor do artigo afirmou ainda que “existe muita diplomacia atrás do palco entre a Alemanha e a Turquia, no entanto, o estado de espírito em Berlim não é bom”. Recordou que, com o fecho das fronteiras austríaca e húngara, a rota dos Balcãs utilizada pelos refugiados para chegarem à Alemanha foi também encerrada, e estes agora estão na Grécia como que encurralados, sendo que alguns tentarão chegar à Itália de barco, preconiza o autor.

“Quando os sobreviventes da viagem lá chegarem, acho que a Eslovénia, Suíça e França vão fechar as suas fronteiras. Neste ponto, não poderemos assumir que o Concelho Europeu é um órgão político em funcionamento”, defende Münchau. O autor diz que o descontrolo da crise de refugiados terá uma influência decisiva no resultado do referendo britânico (sobre a permanência do país na União Europeia) e “a chegar numa altura destas, o Brexit tem o potencial de destruir a União”.

Este “cenário apocalíptico” não é expectável, explica o jornalista, mas “não é implausível”. “A UE está prestes a enfrentar um dos mais difíceis momentos da sua história. Os Estados-membros perderam a vontade de encontrar soluções conjuntas para problemas que poderiam resolver ao nível da União, mas não isolados”. Absorver um número elevado de refugiados, acrescenta, é impossível para um Estado-membro sozinho, mesmo tratando-se da Alemanha.

Esta tendência de soluções isoladas nota-se sobretudo na Europa Central e de Leste, sublinha Münchau. “A senhora Merkel tem de assumir grande parte da culpa. A sua política de porta aberta foi anti-europeia no que ela impôs, unilateralmente, ao seu próprio país e ao resto da Europa. Ela apenas consultou o chanceler austríaco Werner Faymann”, acusa o jornalista especializado em Economia.

Para o mesmo, quatro “fracturas” ameaçam a União Europeia: a primeira diz respeito a uma separação Norte-Sul em relação aos refugiados, em que o sistema de Schengen só funcionaria no eixo Alemanha/França/Benelux. A segunda fractura é a crise do euro, onde nada mudou. A divisão entre o Este e o Oeste é a terceira fractura, opondo as sociedades mais abertas da Europa Ocidental ao fechamento dos países mais a Leste.

E a última é o chamado Brexit: “não conseguimos saber o desfecho do referendo britânico”, afirma Münchau, sublinhando que até à data do mesmo, os acontecimentos vão influenciar a opinião pública dos britânicos, e numa fase onde o resultado desta consulta popular pode levar a actos semelhantes na Suécia ou Dinamarca, aumentando a incerteza.

A Holanda pode juntar-se a este grupo: o jornal espanhol El Mundo revelou que o outrora bastião do europeísmo experimenta um sentimento anti-UE cada vez maior. Numa sondagem, 53% dos inquiridos defende a realização de um referendo “à britânica” sobre a permanência holandesa na União. A iniciativa, já baptizada de “Nexit”, está a ser aproveitada politicamente. O líder do xenófobo PVV (Partido da Liberdade), Geert Wilders, já faz campanha pelo “não” à permanência na UE.

Para o autor, mais perigosa para a União Europeia do que a crise do euro, é a crise dos refugiados ficar descontrolada. Com a agravante de que, desta vez, Alemanha e França estão em lados opostos.

Münchau recorda que o primeiro-ministro gaulês, Manuel Valls, tinha dito na Conferência de Segurança em Munique no início deste mês que recusava mais quotas de refugiados, salientando que não fora a França a convidá-los a entrar em solo europeu. “O perigo está à espreita”, termina o jornalista.

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