Se o uso da cloroquina, mesmo em pacientes leves, tornar-se protocolo do tratamento, os conselhos de medicina e as demais autoridades sanitárias vão obedecer. Duvido que médicos responsáveis farão isso apenas porque o Ministério da Saúde está recomendando.
A saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde é um péssimo prenúncio. Não que ele estivesse sendo um bom ministro, ninguém poderá sê-lo com Bolsonaro, que agora partirá para a barbárie sanitária. Vai colocar na pasta alguém para fazer o que ele quiser, alguém sem compromisso científico, capaz de incluir a cloroquina no protocolo de tratamento da Covid19, e que tente romper o que resta do isolamento. Para cumprir este papel aí estão Osmar Terra e o próprio secretário-executivo e agora ministro interino, general Pazuello. Se a epidemia já está castigando muito o país, pior ficará.
Bolsonaro, na percepção de alguns congressistas, agora partirá para o “vai ou racha”. No pronunciamento de amanhã, estaria disposto a anunciar o fim do isolamento social em nome dos empregos e da economia, que já foi para o brejo, não por causa do isolamento, mas por causa da pandemia. Isso é aqui, é na Suécia (que agora ele gosta de citar como exemplo de país que não fez isolamento), é em todo o mundo. Só ele não entende.
Mas como poderá Bolsonaro decretar o fim do isolamento se o STF já decidiu que os governadores e os prefeitos têm prerrogativas para adotar as medidas mais adequadas às suas realidades? Se não for com o golpe, será uma trombada com graves consequências.
Se o uso da cloroquina, mesmo em pacientes leves, tornar-se protocolo do tratamento, os conselhos de medicina e as demais autoridades sanitárias vão obedecer. Duvido que médicos responsáveis farão isso apenas porque o Ministério da Saúde está recomendando.
Mas o certo é que estaremos no pior dos mundos. Os governadores remando numa direção, o governo federal em outra. No ponto a que chegamos, não resta mesmo outro caminho às oposições senão apresentar um pedido de impeachment substancioso, apoiado por todos os partidos de esquerda e entidades representativas da sociedade, como farão agora PT e os demais. No caminho haverá a pedra Rodrigo Maia, mas mesmo ele, em algum momento, chegará ao limite. Chegará porque estará expressando o fim da paciência das elites, que vêm embalando Bolsonaro em troca da agenda neoliberal. Mas o vírus já liquidou também com esta agenda, ninguém sairá da crise com ela.
A outra providência que precisa ser tomada é pelos governadores. Já que não tem governo federal atuando na pandemia, ou melhor, já que o governo federal atua a favor do vírus, os governadores precisam criar uma coordenação nacional entre eles. Um consórcio, um organismo informal que faça o que o Ministério da Saúde devia fazer.
O problema é que o ministro de Bolsonaro, seja quem for, é que terá poder para manusear os recursos da pasta. E por mais que possam e queiram os governadores, sem dinheiro eles poderão muito pouco.
Vai piorar bastante. Resta-nos também repetir Bolsonaro dizendo “Deus acima de todos”, o que significa também, “Deus acima de Bolsonaro”, para ter compaixão dos brasileiros.
Texto original em português do Brasil
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