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Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Vasco Pulido Valente e Olivença

Carlos Luna, em Estremoz
Carlos Luna, em Estremoz
Professor de História, Investigador

Não pretendo iniciar uma polémica com Vasco Pulido Valente. Mesmo porque, tendo uma visão do mundo radicalmente diferente, isso a nada conduziria. Mas não resisto a apontar um erro numa afirmação dele.(A propósito do “EXPRESSO”, revista “E”, 21 de Julho de 2018)

Não pretendo iniciar uma polémica com Vasco Pulido Valente. Mesmo porque, tendo uma visão do mundo radicalmente diferente, isso a nada conduziria. Mas não resisto a apontar um erro numa afirmação dele.

Claro, li quase tudo o que escreveu Vasco Pulido Valente. Nascido em 1941. Conservador, em tempos próximo do PSD. Crítico de Salazar. Historiador, principalmente da Primeira República. Crítico feroz  de quase tudo. Excelente escritor. Pessoa de muito peso em termos de opinião pública. Iberista, pelo menos em 1990. Um direito que lhe assiste («Privados del imperio y del protectorado británico que estuvo en vigor a lo largo de todo el siglo XIX, y sócio de España en el mercado único y en la unión política, Portugal está seguramente condenado a diluirse, tarde o temprano, en el conjunto de las regiones peninsulares-»  Vasco Pulido Valente, catedrático, historiador y comentarista político portugués, Diário “El País”, Jueves, 13 de septiembre de 1990)

Todavia, desde sempre algumas das suas afirmações me deixam  estupefacto. Como, numa entrevista, declarar que a Cultura portuguesa tinha acabado com Eça de Queirós. Esquecendo Pessoa que, aliás, embora genial, tem opiniões em que não me revejo… o que em nada obsta a que seja uma figura de indesmentível e incontornável valor. Ou como quando disse que o Primeiro de Dezembro só era celebrado por lacaios dos meios monárquicos depois de 1910. Ele, que te, obrigação de saber que foi a República a instituir tal data como feriado nacional. Não entendi.

Vasco Pulido Valente pronuncia-se sobre tudo. Na minha opinião, e sem pôr em causa o direito que lhe assiste, por vezes erra. Deste vez, o erro foi sobre Olivença. Na revista “E” (do jornal “Expresso”, naturalmente), de 21 de Julho de 2018, na página 26, numa entrevista, li esta frase, que passo a transcrever na íntegra:

O que é que o nacionalismo português pode reivindicar? Não a língua, porque quase toda a gente fala português. Não o Estado, que existe desde o século XII. Reivindicações de fronteiras, há aquela célebre ALDEIA  do Alentejo, OLIVENÇA. Queremos conquistar Badajoz Não faz sentido. O nacionalismo português não tem reivindicações. É um dado com que toda a gente nasce. As opiniões que os portugueses têm sobre o nacionalismo dos outros deviam ser graduadas por esta situação. Mas não são.»

Vasco Pulido Valente pode opinar como quiser. Mas, neste caso, deveria ter-se informado melhor. Sem desprimor para as primeiras, deveria saber a diferença entre uma aldeia e uma vila ou cidade. E, já agora, informar-se do papel que Olivença  teve em Portugal (em 1570, era o 13.º núcleo urbano do País, em população, e era sede de bispado), como a sua riqueza monumental atesta (A Igreja da Madalena, outrora Catedral, é o segundo maior templo manuelino que existe… depois dos Jerónimos).

Que Vasco Pulido Valente opine como entender sobre nacionalismo, não me importa. Nesse campo, até estou com ele. Mas servir-se dum exemplo de forma errada, por favor não!

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