Este final de semana, uma nova reportagem da Folha de S. Paulo em parceria com o site The Intercept Brasil trouxe à tona um novo capítulo sobre o uso político da operação que deveria combater a corrupção no país. A reportagem mostra o então juiz Sergio Moro – atual ministro da Justiça – conspirando abertamente para impedir a nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil e tirar a ex-presidente Dilma Rousseff do poder.
Em 2016, o vazamento de um grampo ilegal envolvendo conversa entre Dilma e Lula incendiou o país e levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a anular a posse de Lula como ministro da Casa Civil. O argumento utilizado à época era de que o telefonema mostrava que a nomeação de Lula serviria apenas para impedir o andamento das investigações da Lava Jato, transferindo o caso de Curitiba para o STF.
No entanto, registros divulgados pela reportagem neste final de semana colocam em xeque a justificativa de Moro. De acordo a matéria, a equipe teve acesso a anotações dos agentes que monitoraram Lula, com resumos de 22 conversas grampeadas após a interrupção da escuta em março de 2016. Elas foram gravadas porque as operadoras de telefonia demoraram a cumprir a ordem de Moro e o sistema usado pela PF continuou captando as ligações.
Os diálogos, que incluem conversas de Lula com políticos, sindicalistas e o então vice-presidente Michel Temer (MDB), revelam que o petista disse a diferentes interlocutores naquele dia que relutou em aceitar o convite de Dilma para ser ministro e só o aceitou após sofrer pressões de aliados.
As anotações mostram que Lula estava empenhado em buscar uma reaproximação com Temer e o MDB e indicam que seus acenos eram bem recebidos pelo vice-presidente e poderiam, quiçá, barrar o processo que resultou no impeachment de Dilma Rousseff.
Lideranças políticas condenaram a manipulação das informações pelo então juiz Moro e procuradores da Operação Lava Jato.
Sabendo que era ilegal, a Lava-Jato optou por agir para impedir a nomeação de Lula. Está provado que a Lava Jato formou um aparelho político paralelo ao Estado para dar um golpe. Agora, com Moro no governo, Bolsonaro sabota a Lava-Jato. Era só política”.
Líder da Minoria na Câmara, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) classificou de “gravíssimas” as revelações publicadas na reportagem e cobrou respostas. “O que mais falta para o afastamento imediato do ex-juiz Moro e dos procuradores envolvidos nas “filigranas” jurídicas”, questionou em sua conta no Twitter.
Moro armou para garantir a eleição de Bolsonaro, mas armou bem antes para garantir o impeachment de Dilma”.
Para o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), o conteúdo da reportagem é gravíssimo. “Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a atuação política do ex-ministro Sérgio Moro e dos procuradores da Lava Jato, essas já não existem mais”
O ex-candidato do PSOL à Presidência Guilherme Boulos destacou a fala de Deltan Dallagnol: “No mundo jurídico concordo com você, é relevante. Mas a questão jurídica é filigrana dentro do contexto maior que é político”.
Aí está a confissão: nunca foi questão de justiça, foi política pura. O que falta para STF anular essa fraude?”
O ex-senador Roberto Requião disse que a Lava Jato poderia ter prestado um notável serviço ao Brasil, interrompendo um triste processo de corrupção.
Ao invés disto preferiu destruir o pais, a serviço da geopolítica norte-americana e do capital financeiro, que hoje governam e dominam. Triste isto!”.
Texto original em português do Brasil
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