POEMA, em seis andamentos, de João de Almeida Santos
para um ROSTO (inédito) – “A PINTORA” – de Filipa Antunes
VER…
I.
Quando te vejo,
Vejo-te a cores,
Sinto aromas,
Provo sabores
Na fantasia…
E vejo traços
E vejo riscos
E tantas fugas
P’ro infinito
Nos sete céus
Dessa magia…
……………….
E eu respondo
Sobre o que sinto
Se tu perguntas:
– Epifania!
II.
Ao longe,
O horizonte
Dos teus riscos,
Aqui ao perto
Uma ponte
Desenhada
Que me leva
Ao pé de ti
Quando o rio
Transbordar
E eu sentir
Que me perdi…
III.
Quando te vejo,
Eu vejo ruas,
Vejo praças
E catedrais,
Desenhos
Levitando
Em tua mão,
Vejo vitrais
E vejo sóis
Em refracção
Que aquecem
A minh’alma
Quando me olhas
E dás a mão…Vejo teus rostos,
Vejo-te a ti
Nesses poemas
Que escrevi…
Sentir-te perto
Era o desejo,
Ver o teu céu
Neste horizonte,
Mas eu fiquei-me
Foi por aqui….Vejo montanhas
E vejo cores
Eu vejo casas
E vejo amores
Por esses vales
E esses rios
Por onde corre
Um fio d’água
Com que regas
O teu jardim
P’ra nele nascerem
Os meus poemas
E tua pele
Ser de marfim…
IV.
Sinto no ar
O teu amor,
Cabelos negros
A esvoaçar
E sinto o vento
Nesse teu rosto
E altas ondas
No nosso mar
Mesmo que venhas
Já no sol-posto
Com os teus barcos
A navegar
Nesse vasto horizonte
Onde se perde
O meu olhar…
V.
Eu vejo telas
Os teus pincéis
Vejo a tinta
Na tua mão
Vejo-te a ti
Doce pintora
Tão concentrada
Nesses desenhos
Em construção…Vejo quadros
E vejo letras,
Nessa pintura
Vejo sinais,
Eu vejo tudo
Neste pontão
Do nosso cais
E sou feliz
De assim te ter…
………………
Isso me basta
Não quero mais!
VI.
Eu vejo tudo
Ah!, meu amor,
Mas não te vendo
É grande a dor…
…………………
Vem ter comigo
A este rio
Passar a ponte
P’ro outro lado,
Dar-me a mão
E um sorriso,
Fazer de mim
Um ser amado
Mesmo sem teres
A tua ponte,
Bela e leve,
Já desenhado…Eu vejo tudo,
Sim, meu amor,
Mas faz-me falta
O teu sorriso…
…………………..
Mesmo que minta
Nada mais quero
Pois é só disso
Que eu preciso!
A PINTORA
Ilustração: ROSTO (inédito) – “A PINTORA” – de Filipa Antunes (31.10.2017. Café, tinta acrílica e caneta azul)