No conteúdo, a tónica é posta na “justiça social” (abordada de frente, sem rodriguinhos nem frases feitas mas com um seco “That means fighting against the burning injustice”) e na cidadania de todos.
Na forma, o discurso é claro, curto, conciso e consistente, para qualquer inglês entender e entranhar. Bastará dizer que durou 4m e 23s e tem 679 palavras ou seja 3.773 caracteres (com espaços) e que está lá dito tudo o que tinha de ser dito.
Como notou Jacques Sapir, “estas palavras teriam podido e devido ser ditas por Jeremy Corbyn, o dirigente do Partido Trabalhista. O facto de terem sido pronunciadas por um primeiro-ministro conservador não surpreende aqueles que se lembram da “grande tradição” dos conservadores britânicos, uma tradição oposta à política neo-liberal de Margaret Thatcher e cujas raízes vão até Benjamin Disraeli…
“Ao ocupar no terreno económico e social as posições que o Partido Trabalhista deveria ter adoptado e fazendo-o ainda com a legitimidade que lhe dá o Brexit, Theresa May está em condições de ocupar a totalidade do espaço político.”
A tomada de posse foi a 13 de Julho e, logo a 2 de Agosto, Theresa May anuncia mais um passo de gigante na sua “revolução conservadora” e mais um enorme afastamento da política neo-liberal.
Ao presidir à primeira reunião da Comissão inter-ministerial de “Estratégia Económica e Industrial”, Theresa May compromete-se com uma “verdadeira política industrial” e põe assim termo a 35 anos de hegemonia da política económica neo-liberal. Verão bem quente em Londres, portanto.
Curiosamente (ou talvez não…), em terras lusitanas, as aves canoras da vulgata neo-liberal têm ignorado soberbamente estes ventos que agora sopram de Londres… Mas têm desculpa: com o calor que por aqui fez, deviam estar na praia.