Eu, por ser velhinho, não escrevo com obrigação de pauta. Não comento só os filmes que estão em cartaz no mercado – mas filmes que estão passando numa televisão ou num site. É o caso de Vermelho Russo, que passou na Sala de Cinema da TV Cultura de SP e está no site Making Off.
Foi um grande prazer ver o filme, que foi lançado em 2016 no Festival do Rio e em outros festivais. Tenho a impressão de que ele não chegou a muitos mercados. Mas deveria, pois, apesar de ser uma produção que se poderia dizer quase “doméstica”, é uma obra agradável de ser vista. E tem uma estrutura cinematográfica aberta, com uma narrativa inteligente e, sem dúvida, capaz de atingir pelo menos um bom público, se quisermos falar em números de pessoas nos cinemas.
O filme foi dirigido por Charly Braun e partiu, me parece, da iniciativa das duas principais atrizes participantes, Martha Nowill e Maria Manoella. As duas estavam querendo se reformular no trabalho de interpretação e resolveram participar de um curso em Moscou com um diretor ligado ao método Stanislavski. E foram. E o filme foi estruturado a partir da ação delas, isto é, da ida para Moscou.
Penso que é um filme “doméstico” justamente porque mostra algo que não foi inventado em suas bases – e o roteiro talvez tenha sido imposto como estrutura mínima de concatenar uma história para que tudo não ficasse somente uma estória. O importante, porém, é como os intérpretes e o grupo técnico trabalharam pensando de forma bem profissional. Se há dúvidas entre os personagens que não se comportam como já decididos em suas ‘vidas’, em contrapartida todas as sequências e cenas buscam a vontade de perfeição.
Algo que toca certamente o espectador é o fato de ter sido filmado em Moscou, mostrando lugares em grande parte conhecidos da cidade, como a Praça Vermelha e a grande loja Gum, além do local de residência das personagens e das aulas. E como havia uma baralhada quanto aos idiomas, o filme se aproveitou disso e deixou fluir um diálogo que ia se concretizando de várias formas. Totalmente natural. Inclusive quando, por exemplo, numa festa no Consulado brasileiro, a equipe aproveita a presença de cônsules e cria uma sequência que se tornou verdadeira.
Vermelho Russo não é uma fórmula que possa ser utilizada para se fazer cinema. Mas as pequenas cinematografias, como ainda é a brasileira, levam os que querem fazer cinema a criar caminhos – e este foi um deles. O fundamental é que fossem apoiados e levados ao grande público, pois só assim haveria uma aproximação com o mercado. Que será que esse Charly Braun e Martha e Manoella estão fazendo hoje?
por Celso Marconi, Crítico de cinema, referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8 | Texto original em português do Brasil
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