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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

“O Viajante Sobre o Mar de Névoa”

Guilherme Antunes
Guilherme Antunes
Licenciado em História de Arte | UNL
Guilherme Antunes
Guilherme Antunes

Com a ascensão do capitalismo muitos ficaram ricos (óbviamente que a maioria, ainda hoje é pobre) e as posses materiais não bastavam para se diferenciarem, era necessário ter uma visão do mundo diferente, uma visão típica dos heróis gregos: o sujeito, enquanto indivíduo, tem a obrigação de ir além das massas.

A centralidade do “eu” foi tomada como fundamental para o pleno desenvolvimento e melhoramento da Humanidade. Visão catastrofista que se impôs por si mesma, digo eu.

Enquanto a burguesia construía uma paisagem esteticamente perfeita, equilibrada e acima de tudo belíssima, a classe operária trabalhava exaustivamente; assim, todos os ideais românticos eram burgueses (e opressores) e todo o direccionamento da vontade, naquele momento, era romântico.

Ideologicamente a classe operária também foi direccionada para acreditar que tais valores estéticos e morais eram irrefutáveis.

Caspar David Friedrich - “O Viajante Sobre o Mar de Névoa”
Caspar David Friedrich – “O Viajante Sobre o Mar de Névoa”

Friedrich pintou uma paisagem que dominou e domina a leitura do mundo das pessoas, isto é, o ideal romântico-burguês do sujeito enquanto ser-unidade, o homem enquanto responsável solitário pela sua vida. O idealismo romântico engessou a colectividade na individualidade.

Para o Romantismo só o “eu” era libertador.

 

Nota da Edição

Caspar David Friedrich (1774-1840)

Caspar David Friedrich
Caspar David Friedrich – Auto retrato, 1800

Pintor e escultor reconhecido sendo considerado o representante mais talentoso do Romantismo, na pintura. Friedrich destacou-se através das suas pinturas paisagistas.

Estudou na Academia de Copenhague. Em 1798, instalou-se em Dresden, onde se tornou membro de um circulo artístico e literário, imbuído de ideais do movimento romântico.

Os seus primeiros desenhos, delineados com lápis ou com sépia, exploravam motivos recorrentes no seu trabalho: praias rochosas, planícies áridas, cadeias infinitas de montanhas e árvores agigantando-se em direcção ao céu. Mais tarde, o seu trabalho passou a reflectir uma resposta emocional ao cenário real e visível.

Friedrich começou a pintar óleos em 1807. Como escreveu o próprio pintor, “todos os elementos da composição têm um significado simbólico. As montanhas são alegorias da fé; os raios de sol simbolizam o fim do mundo pré-cristão; e os pinheiros marcam o surgimento da esperança. ”

As cores frias mas ácidas de Friedrich, com brilhante luminosidade, e a variedade de contornos, aumentam o sentimento de melancolia, de isolamento, trazendo a sensação de impotência humana diante das forças da natureza expressas nas suas pinturas.

Como membro efectivo da Academia de Dresden, Friedrich acabou por influenciar muitos pintores românticos alemães que vieram depois dele. Ainda que a sua projecção tenha diminuído após a morte, os observadores do Séc. XX permanecem fascinados com a sua imaginação.

No ano de 1818 casou com Caroline Bommer, o que levou a um toque de maior leveza nas suas obras de arte, principalmente na figura feminina que começou a ganhar espaço na sua inspiração.

No ano de 1835, após Friedrich sofrer um derrame cerebral, acabou por ficar parcialmente paralisado, o que impossibilitava o artista de fazer o que mais gostava, que era pintar. Mais tarde, conseguiu recuperar os movimentos, mas a sua habilidade com o pincel foi ficando cada vez mais precária, e caiu no “esquecimento”.

Em 1838, recorreu a ajuda por parte de amigos, pois passava por grandes dificuldades financeiras.

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