Europeísta convicto, foi com enorme sentimento de “perda” que assisti, enojado, ao mais recente striptease político da Comissão Europeia no palco da ONU e do Direito Internacional. O ténue véu, que já só parcialmente ocultava a enorme hipocrisia subjacente a esta pseudo-União, caiu com estrondo revelando de forma impiedosa a crua nudez do diktat alemão, e dos seus associados ricos, sobre a larga maioria dos países que a integram.
Sem quaisquer vestígios de pudor a Alemanha e os seus satélites, onde impera uma nova direita neoliberal e radical, rompem de uma penada com o Direito Internacional e com a regra de transparência definida para a escolha do Secretário-Geral das Nações Unidas. Uma metodologia inteira, a estrear, é votada às urtigas e sacrificada no altar do, cada vez mais evidente, IV Reich.
Neste contexto, resulta irónico que a candidata búlgara de substituição, assim dispensada das eliminatórias, se chame Kristalina, Georgieva – actual Vice-Presidente da CE. Não serão muitos os exemplos de candidatos a um cargo de tão grande responsabilidade a portar um nome antónimo do processo que os conduziu a tal situação.
Foi a esta União que Portugal aderiu?
Não! Portugal aderiu a uma comunidade onde a paridade e a igualdade eram os princípios reguladores fundamentais dos direitos dos estados membros e onde as manobras de geopolítica eram desenhadas em função das regiões económicas e de interesses exteriores à comunidade. Jamais dentro das fronteiras do espaço europeu.
Desde então, e até ao presente, deterioraram-se a qualidade das políticas e dos políticos. Os interesses regionais intra-comunitários sobrepuseram-se aos interesses comuns ao espaço Europeu. O fosso entre países ricos e países pobres substituiu o saudável princípio da solidariedade e das políticas de convergência. O Euro é uma armadilha destinada a aprofundar esse fosso, tornando os países ricos ainda mais ricos e empobrecendo mais os países pobres.
Para os países periféricos foram desenhadas políticas de liquidação da sua capacidade produtiva, e consequentemente da sua independência, a troco de alguns patacos para iludir os mais ingénuos. Em Portugal, a destruição do tecido produtivo industrial, agrícola e das pescas, foi protagonizada pelo pior primeiro-ministro desde a fundação da nacionalidade – Cavaco Silva – que cumpriu com brilho e distinção a tarefa que lhe estava atribuída: transformar Portugal numa fonte de recursos humanos de qualidade para exportação e, a nível interno, numa fonte de mão-de-obra barata, apta a competir com as economias emergentes, nomeadamente no Extremo-Oriente, mas também com a Rússia, Brasil e África.
Uma “direita radical” e sem “maneiras”
Depois de vários anos a “tentar tapar o sol com uma peneira”, que é como quem diz, a tentar esconder a falência do seu próprio sistema financeiro, obrigando os países periféricos a pagar o descalabro dos seus próprios bancos, através de programas de austeridade, vendendo a ideia de que teriam sido os assim designados PIGS a viver acima das suas possibilidades, eis que a “sede” do Reich económico está neste momento confrontada com o seu “doméstico” Lehman Brothers que ameaça arrastar a economia mundial para uma crise semelhante, se não pior, à de 2008. Apetece perguntar: quem é agora o PIG, quem é?
Os protagonistas deste eminente colossal colapso financeiro, e económico, têm um CV que fala, grandiloquentemente, por si: do inenarrável sr. Dijsselbloem, detentor de um Mestrado semelhante à Licenciatura do ex-Ministro Relvas, passando pelo principal agente do dumping fiscal, Sr. Juncker, que dedicou os últimos anos a “roubar” as economias dos seus parceiros na União através de acordos secretos com alguns gigantes da Indústria e de uma política fiscal destinada a promover a transferência de riqueza criada alhures para o Luxemburgo mediante o expediente de taxar de forma ridícula os lucros das grandes empresas.
Mas o centro nevrálgico desta “operação” está no ministério das Finanças Alemão, onde pontifica Wolfgang Schäuble, e na própria Frau Angela Merkel, que tudo fizeram para esconder o fracasso das suas políticas, da sua economia, do seu sistema financeiro, transferindo habilmente para os mais pobres a responsabilidade de tornar solvente o que estava falido há muito – isto é, os bancos alemães.
Anjos caídos
São estes cavalheiros e damas, incluindo a Kristalina pois claro, que agora vêm, desassombradamente, ignorar o Direito internacional, fintar o processo moroso e mais claro de nomeação para Secretário-Geral da ONU, e apresentar uma candidata mais “ortodoxa e obediente”, Búlgara, para correr os derradeiros cem metros de uma maratona.
Emigrar deixou de ser solução. Expatriar-se é pouco perante tal sem-vergonha sobretudo de quem deveria ser o principal guardião dos valores da Civilização Ocidental. A este passo exgalactizar-se parece ser a solução que resta aos cidadãos inteligentes e amantes da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade. Ou combater!