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Terça-feira, Julho 16, 2024

Vídeo divulgado faz renascer esperança sobre raparigas raptadas pelo Boko Haram

nigeria
A CNN teve acesso a um vídeo que mostra algumas das “raparigas de Chibok” enviadas para os negociadores; os raptores quererão dar assim uma “prova de vida” das adolescentes raptadas há dois anos pelo grupo armado.

Primeiro, os negociadores viram as imagens, que depois foram mostradas a membros do governo nigeriano, e agora os pais das alunas desaparecidas viram o vídeo, que terá sido feito em Dezembro. Rifkatu Ayuba reconheceu a sua filha, Saratu, no vídeo.

A jovem tem 17 anos e a mãe confessa ter vontade “de removê-la do ecrã” – trata-se da primeira vez que vê a filha em dois anos. Nenhuma das quinze jovens que aparecem no vídeo mostra sinais evidentes de maus-tratos.

Naomi Zakaria, uma das jovens, surge no fim do vídeo com o seguinte discurso, que se crê ensaiado: “estou a falar a 25 de Dezembro de 2015, em nome de todas as raparigas de Chibok e estamos todas bem”.

A grande maioria das 276 raparigas raptadas naquela cidade nigeriana em Abril de 2014 são cristãs. Crê-se que o Boko Haram as obrigou a converterem-se ao Islão.

 

Uma das jovens que escapou conta a sua história

O governo da Nigéria diz ter em sua posse uma cópia deste vídeo mas acrescenta ainda não poder provar a sua autenticidade. Lai Mohammed, ministro da Informação nigeriano, admitiu existirem preocupações: as raparigas que aparecem no vídeo não parecem ter mudado o suficiente em relação ao que seria de esperar no espaço de dois anos.

A CNN falou com uma das estudantes, colega das raparigas que aparecem no vídeo, e que conseguiu escapar do ataque do Boko Haram à escola de Chibok; a jovem, que não foi identificada por razões de segurança, diz ter reconhecido algumas das alunas como suas colegas.

Esta jovem não identificada escapou ao rapto porque decidiu à última hora não ficar na escola, nesse domingo, para fazer exames a par com as colegas. “Fugimos para a floresta e lá ficamos um mês”, contou. Apesar de se sentir “uma das que tiveram sorte”, afirma ter até hoje pesadelos, sobretudo quando surgem notícias que falam do continuado desaparecimento das jovens.

Uma das mães de Chibok, Yana Galang,que viajou até Maiduguri para se encontrar com a CNN viu o vídeo mas não conseguiu ver a filha Rikfatu, por ela não estar no grupo. Porém, admitiu que existe uma esperança: “vimos o suficiente. Sabemos que as meninas estão vivas e estão escondidas, não estamos preocupadas. As nossas filhas parecem estar bem. Ouvimos muitas histórias antes mas este vídeo confirma que elas estão vivas. O governo devia negociar com o Boko Haram”, defendeu.

 

Pais das jovens raptadas insistem: “bring back our girls” (“tragam de volta as nossas raparigas”)

O The Guardian revela ainda que centenas de pais de Chibok marcharam esta semana na capital nigeriana, Abuja, e noutras cidades, para exigir do governo esforços mais concretos para libertar as jovens.

Ao mesmo tempo, foi feita uma vigília de oração frente à escola secundária de Chibok, de onde as raparigas foram raptadas. O novo presidente, Muhammadu Buhari (que sucedeu nas eleições do ano passado a Goodluck Jonathan), prometeu redobrar os esforços para encontrar e trazer as raparigas de volta.

O ministro da Informação admitiu que continua a haver negociações com o grupo armado, mas não quer desvendar mais detalhes porque poderia até colocar em risco todo o trabalho.

A ActionAidUK, uma organização humanitária que trabalha na Nigéria, insistiu que é obrigação do governo de Abuja fazer com que as jovens regressem às suas famílias e possam ir à escola sem medo. “Até que cada uma das 214 raparigas regressem com segurança a casa, temos de continuar a erguer a voz e apelar ao governo nigeriano para fazer tudo o que possa para trazer as nossas meninas de volta”.

“Está na hora do governo da Nigéria dizer a verdade sobre as raparigas desaparecidas de Chibok”, escreve no The Guardian Omolola Adele-Oso, co-fundadora de Act4Accountability, uma organização da diáspora africana cujo objectivo é o envolvimento na cidadania.

A activista acusa o governo de espalhar “mentiras descaradas” aos media e aos nigerianos em matérias de segurança nacional, bem como no caso das meninas raptadas. No artigo, recorda que Muhammadu Buhari, presidente do país, dissera que o Boko Haram seria derrotado até ao fim de 2015, e no entanto, dados oficiais apontam para mais de 200 mortos às mãos da organização terrorista desde o início de 2016.

Apesar da autora admitir que as forças conjuntas do Chade, Níger, Camarões e Nigéria terem feito progressos através da “contra-insurgência”, “mais tem de ser feito não só para derrotar o Boko Haram, mas na protecção das comunidades que se mantêm vulneráveis a possíveis novos ataques”, insiste.

Outro sinal de que a luta não está a ser ganha são as recentes notícias, de acordo com as quais o grupo armado usaria algumas mulheres raptadas para actos de terrorismo, depois de as violarem, torturarem, fazer com que passem fome e tentarem manipulá-las com a promessa de irem para o Paraíso caso se façam explodir.

Omolola Adele-Oso termina o artigo insistindo na importância da escolaridade das meninas e jovens nigerianas, e descreve o relato de uma jovem que passou por esta situação: “Tenho saudades das minhas colegas de escola e de ter livros para estudar. Aqui, partilhamos os livros e muitas das páginas estão rasgadas”.

 

O que é o Boko Haram?

O grupo armado terrorista, cujo nome significa “a educação ocidental ou não-islâmica é um pecado”, quer instaurar a Sharia (lei islâmica) no norte da Nigéria.

Alegam lutar contra a corrupção política, contra a falta de pudor das mulheres, prostituição e outros comportamentos negativos. Culpam os cristãos por esses problemas, bem como a cultura ocidental e a tentativa de ensino para mulheres e crianças.

O Boko Haram faz das crianças raptadas suas servas, e chega a permitir que elas sejam violadas tanto pelos membros da organização terrorista, como por habitantes de aldeias muçulmanas para onde as levem, até as forçarem a converter-se ao Islão. Também atacam aldeias e vilas cristãs; chegaram a exterminar duas mil pessoas no chamado Massacre de Baga, em 2015.

Dados da UNICEF de Dezembro de 2015 indicam que mais de duas mil escolas na Nigéria estão fechadas e um milhão de crianças deixou de poder ir às aulas.

 

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