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João de Sousa

Segunda-feira, Novembro 18, 2024

Quem votou Brexit e porquê… ?

João de Sousa
João de Sousa
Jornalista, Director do Jornal Tornado

joao-sousaO Reino Unido foi a votos para referendar, pela segunda vez na sua história, a integração ou a independência do projecto europeu. Na primeira consulta a resposta dos cidadãos britânicos foi eloquente: uns esclarecedores 65 por cento dos britânicos que votaram preferiram a integração no, então ainda denominado, Mercado Comum Europeu, ou, Comunidade Económica Europeia (CEE).

O que terá motivado os excêntricos, individualistas e “imperiais” súbditos de Sua Majestade, tão cheios de si, orgulhosos dos seus próprios standards, da sua história, da sua monarquia, da sua moeda, a tomar tal decisão manifestando-a de forma tão expressiva?

Não é assim tão difícil responder a esta questão: a comunhão de valores civilizacionais, a consciência da importância de criar condições que tornassem impossível, no espaço europeu, a repetição de uma guerra fratricida com consequências em perdas – humanas e económicas – semelhantes às resultantes do segundo conflito mundial. O antídoto para a guerra era uma economia comum, interesses partilhados, que se entrecruzassem de tal modo que não permitissem a nenhum país ou grupo de interesses sequer considerar tal possibilidade.

Uma “zona económica” com a dimensão da Europa, reunia valências e competências para se transformar num player com uma “voz forte e decisiva”, impossível de ignorar no grande palco da economia e da política mundiais. Esta Europa definia-se como uma Europa de cidadãos, de igualdade entre Estados, capaz de produzir riqueza, de lutar pela defesa do “ambiente” e pelos direitos dos “consumidores”, de defender as liberdades cívicas – económicas também – claro, mas tendo como “pedra de toque” a justiça na sua distribuição, entre indivíduos e entre Países. Uma Europa solidária, tendendo para o equilíbrio, reduzindo o fosso entre ricos e pobres, quer a nível interno de cada país, quer ao nível das diferentes regiões. Virada para a coesão social em todos os tabuleiros.

Foi a esta ideia de Europa que também eu aderi imediatamente. Este projecto fez de mim um Europeísta convicto que antecipou de imediato que o federalismo seria uma etapa, e uma consequência, inevitável do caminho que se nos apresentava diante e que era preciso percorrer. A consciência do caminho, recheado de obstáculos, de avanços e recuos, não me intimidou nem por instantes. Ora aí estava um desafio à altura dos homens e dos líderes de uma geração.

Na minha opinião, e à sua maneira idiossincrática muito própria, creio ter sido esta a motivação dos britânicos que de forma tão clara se pronunciaram a favor da integração nesse primeiro referendo.

O 4º Reich

Foi esta a Europa levada a votos no Reino Unido na passada semana? Nem por sombras! Esta Europa morreu e o seu estro está refém de uma clique que defende e pratica uma ordem de valores, políticos, económicos e sociais completamente diferente da acima descrita. A esta luz será legítimo interpretar o sentido de voto dos britânicos como efeito de uma avaliação unânime fundada nas mesmas razões?

Pode dizer-se, sem assinalável margem de erro, que todos os britânicos rejeitaram a ideia de União Europeia, tout court, ou deverá considerar-se que muitos dos votantes do eXit não rejeitaram a ideia de Europa mas sim, e apenas, a actual ideia de Europa, prevalecente nas chancelarias, nas instituições e nos grupos de interesses “supra-políticos”, venais, acomodados e burocráticos, que caracterizam o modus vivendi de uma casta de eurocratas, autóctones das instituições comunitárias, sustentados por elites medíocres e corruptas, geradas nos “centrões” de cada país?

Esta “casta”, magistralmente caricaturada pelo suíço Albert Cohen num romance ímpar intitulado “La Belle du Seigneur”,  tem como leme a moeda – o euro – deliberadamente imperfeita para aprofundar o fosso entre economias e, como “pilotos”, o Ministro das Finanças Alemão (Schäuble) e o Presidente do Banco Central Europeu (Mario Draghi), que habitam uma “galáxia” diferente da povoada pela generalidade dos cidadãos, visando conservar a todo o custo o “poder” do establishment e desse modo o seu próprio poder. Nas conhecedoras mas inconscientes palavras de Passos Coelho: “custe o que custar”.

brexitMuitos britânicos têm ainda na memória os milhares de mortos nas praias da Normandia para defender a sua “ilha” contra a hegemonia, a prepotência, a arrogância dos políticos alemães. E, sem grande esforço, encontrarão no actual discurso alemão, da Sra. Merkel mas sobretudo do Sr. Schäuble, o timbre de arrogância contra o qual lutaram. Outros tantos ouvem como ecos da memória a jactância, a sobranceria, o desrespeito total pelos outros, nas declarações de Junker, de Dijsselbloem, de Donald Tusk.

E a esta União, eu, europeísta e federalista indefectível, teria dito igualmente: NÃO!

Neste referendo, os “nãos” britânicos resultam da soma de um melting pot de razões. E é a esta luz que devem ser interpretados!

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