DIA 15, FALAMOS
O voto em branco é menosprezado, por vezes, misturado com os votos nulos e até com a abstenção assim lhe retirando aquilo que efectivamente é: uma mensagem política e uma representação de uma vontade expressa.
Uma vontade de proclamar que, de todas candidaturas que constam no boletim de voto, nenhuma merece a minha confiança, nenhuma poderá representar-me.
O facto ser colocado ao mesmo nível do voto nulo ou da abstenção é um manifesto mal entendido. Ao contrário do que acontece com a abstenção, quem vota em branco desloca-se à mesa de voto e participa na eleição. O eleitor não se abstrai da decisão nem do que está em causa naquela eleição.
O voto em branco não é (só) um voto de protesto. Antes se trata de uma posição política clara. Imaginemos que 10 ou 20% dos votos contados eram em branco. Seria o terceiro maior “partido” em Portugal. Imaginemos ainda que, dos 230 lugares de deputados do nosso parlamento, 20% ficavam vagos pois os eleitores não tinham escolhido ninguém. Imaginemos o impacto que teria no sistema e na percepção que os cidadãos têm da nossa democracia.
Actualmente, os votos em branco contabilizados não chegam a 3%. Mesmo assim, mais votos do que muitos partidos. Nas Legislativas de 2019, representaram mais de 131 mil votos (2,51%). E, nas Presidenciais de 2021, contabilizaram mais de 125 mil votos (2,50%).
Imaginemos quantas pessoas se abstiveram por não terem opção eleitoral válida. Infelizmente, esta parcela dos abstencionistas não se deu ao trabalho de ir votar. Imaginemos, finalmente, os comentadores das nossas televisões na noite eleitoral a justificar esse hipotético resultado.