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Sexta-feira, Abril 18, 2025

Voto em Haddad, mas faço exigências

Christiane Brito, em São Paulo
Christiane Brito, em São Paulo
Jornalista, escritora e eterna militante pelos direitos humanos; criou a “Biografia do Idoso” contra o ageísmo.  É adepta do Hip-Hop (Rap) como legítima e uma das mais belas expressões culturais da resistência dos povos.

 

sem-temer

No Brasil, ressuscitamos o voto útil, tão criticado na origem. E, nos Estados Unidos da América, até mesmo líderes dedicados exclusivamente ao “despertar espiritual e à meditação”, como a esotérica Sami Tami, lançam manifestos, pedindo que os cidadãos votem, “please”:

“Engaje, Register, Vote”

O manifesto não indica candidato, mas avisa que o mundo está no caminho da escuridão e a omissão (do eleitor) pode multiplicar o sofrimento humano em grande escala. Há que aterrissar na realidade e ver em quantas desgraças estão nos metendo.

Menos sutil e com candidato declarado, o The New York Times declarou, na sexta-feira passada, que está em campanha por Hillary Clinton. A escolha não impediu que uma editora-contribuinte oferecesse “conselhos” à candidata em um artigo igualmente pacífico como o manifesto de Sami. Resumidamente, a jornalista, Gail, pediu que Hillary governasse para os “99% da população” que demandam mudanças, mesmo que isso significasse dar as costas a amigos que ela tem entre o 1% restante. Não satisfeita, a articulista pediu mais; pediu “paixão” pela causa, como a que Hillary já demonstrou ter em lutas políticos do passado.

Eleitores se unem

No Brasil, a impossibilidade de união das esquerdas expôs, logicamente, as críticas de um partido de esquerda a outro, ou melhor, as críticas de um candidato a outro. Era esperado, lógico!

Mas eu espero que os eleitores – novamente, nós, o povo – não comecem a se atacar.

Em 2013, quando o golpe deu sinal, o povo saiu em defesa da presidente Dilma Rousseff, nas ruas e, principalmente, nas redes sociais. Fez mais do que o PT e a própria Dilma.

Agora, depois de termos ido todos juntos às ruas para brigar contra o impeachment, abandonando diferenças e críticas, espero ter o direito de escolha do voto sem ódio entre nós. Sou Erundina de coração e dói renunciar a ela.

Mas eu, que já me arrependi amargamente de voto útil, votarei útil no atual Prefeito Fernando Haddad. Que já negou o PT três vezes, no estilo “negação do apóstolo Pedro a Jesus Cristo”.

Não que eu considere Lula um Jesus Cristo, ao contrário, acho que nosso ex-presidente qualquer dia, de tanto que testa, vai esgarçar os limites do seu carisma. É grande, internacional, mas é humano, não custar lembrar.

As negações

Haddad tem uma atitude blasé do tipo sou petista, mas diferente, talvez por isso tenha criado um slogan de campanha – criticado internamente – em que se explica: “Mais São Paulo. É diferente.”

haddadJá criticou publicamente a gestão de Dilma, relevando a superioridade do governo Lula, num momento delicadíssimo de pré-impeachment. Para os meus padrões éticos, ele extrapolou.

Só voltou à defesa de Dilma quando o próprio Lula foi preso para investigação. A prisão, espetáculo que a Globo transmitiu em superprodução quase antes de ir ao ar, demonstrou que a democracia estava mesmo agonizando. E com agenda de prisões já definida até outubro, a julgar pelas prisões dos ex-ministros Guido Mantegna e Antonio Palloci, anunciadas antes de irem a termo.

A segunda negação de Haddad foi quando escolheu um vice-prefeito para a sua chapa que era do PMDB, Gabriel Chalita; a terceira, quando quase apagou a estrela, símbolo maior do seu partido, no material de propaganda da campanha. Levou puxões de orelha e aumentou o tamanho da estrela, afinal, os petistas formam a base da sua candidatura.

O vice, Chalita, como escritor é bem assertivo (60 obras), mas como político é errático: foi do PDT (1987-1989) PSDB (1989-2009) PSB (2009-2011) PMDB (2011-2016) PDT (desde 2016). A filiação ao PDT foi uma exigência, Haddad não poderia ter PMDB na chapa.

Mantém, no entanto, Luciana Temer como secretária municipal. A filha de Temer sempre foi PMDB, mas teve que ceder à pressão quando a situação no país ficou insustentável, deixou a legenda.

Vacilão, não

Votarei no Haddad contrariada, mas certa de é o melhor para o país no momento. Ele só não pode vacilar. Se a Marta Suplicy despencar e quiser oferecer parte do eleitorado que tem na periferia (porque toda parceria, até com demônio, cabe na fala diretiva e doce de Marta), não pode haver conversa.

E se a Luciana Temer e o próprio Chalita, super amigo do Temer mantiverem o relacionamento e amizade de sempre com o presidente em exercício não será ético. Amigos, amigos, negócios à parte, tem que haver confidencialidade. Temer está em campo oposto ao de Haddadd, Não pode haver comunicação entre eles.

É a nossa chance e vou rezar para que um espírito heroico, generoso, amante do povo ilumine a reeleição de Haddad. Seria pedir muito trazer a Erundina para o barco? Com ela, não afunda! Vamos lá, Haddad, pensa melhor no início para não ter más surpresas no futuro.

Quem sabe, como o Pedro, o Santo, você não seja o fundador do novo PT? Só não pode cair em tentação.
A autora escreve em português do Brasil

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