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João de Sousa

Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Voz inquieta

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Poemas de Delmar Maia Gonçalves

I

“Voz inquieta”

Inquietem-se povos do mundo
Sim, povos do mundo inteiro
inquietem-se
inquietem-se contra a injustiça
ainda que isso vos custe o encarceramento
ainda que isso vos custe a tortura
Valerá a pena viver amordaçado?
Valerá a pena viver no silêncio?
Ah, como é belo sentir-se o cheiro da liberdade!
Inquietem-se povos do mundo
sim, povos do mundo inteiro
Inquietem-se em nome do futuro!
Ah, como é triste
viver amordaçado e humilhado!

II

“El Torky”
(no Estúdio 222)

No El Torky
desfilam
rostos orientais e rostos magrebinos e arábicos
carregados de nostalgia, incompreensão, desencanto, esperança e orgulho.

Entre estes
alguns ocidentais e africanos curiosos
em busca do mundo e do exótico.

Na fronteira
vislumbram-se cartazes bollywoodescos, gastronomia e arte egípcia.

Dois sons paralelos
se entrecruzam
a música árabe
com a sublime dança do ventre
(foi aqui que Soraya escreveu melodias com o corpo)
e a música indiana de fundo
(sublimada por Madhuri).

Tudo é convite
e o prazer é total!

III

“Fome de palavras”

Tenho fome
muita fome
Estou ausente, faminto, vazio.

Não se trata
da etiópica fome
nem sequer
da fome de remexer a fiel ténia
é a fome de palavras
rara , mas real.

Sinto-me ausente, faminto, vazio!
Sinto fome de palavras!

IV

“Mulher XXIX”
(Homenagem à Augusta e Natalina – duas mulheres que não amei)

De comum tinham apenas
meu desamor
e a paixão que por mim nutriam
Com ambas partilhei cumplicidades
Fica a mágoa de termos sido egoístas
Queria amor deram-me paixão
queriam amor dei-lhes desamor.

V

“Mulher XII”

(Estrofes para um poema inacabado)

Era em ti
que eu pensava
quando olhava um horizonte frontal vazio

Eras tu
quem eu pintava quando fingia ser o Picasso do trópico sul

Era em ti
que depositava esperanças
em momentos de desespero

Era em ti
que me concentrava no emaranhado
de desconcentrações inevitáveis desta vida mundana.

VI

“Jogo sujo”

Jogo sujo jogo sujo
Como há lugar
para tanta mentira?

Jogo sujo jogo sujo
O que ganham com a mentira?

Jogo sujo jogo sujo
O que esperam do lesado?

Jogo sujo jogo sujo
Que sorriso tão mórbido!

Jogo sujo jogo sujo
Já estou farto do cinismo!

Jogo sujo jogo sujo
Não perdoo a mentira!

VII

“Poeta…!”

Não te esqueças nunca
que amanhã
podem o sol e a lua nascer
aguardando em vão teu despertar!

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