Os versos da canção Coração Tranquilo, de Walter Franco (1945-2019) têm sido, para mim, um roteiro de vida: “Tudo é uma questão de manter / A mente quieta / A espinha ereta / E o coração tranquilo”. Tive dois contatos com Walter Franco – o primeiro foi aí por 1969 ou 1970.
Eu fazia parte do Centro Cultural Guimarães Rosa, criado por um grupo de secundaristas em São Bernardo do Campo, com o objetivo de promover um ação política e discutir, através da cultura, a difícil situação brasileira naqueles anos que, no início dos tempos do AI-5, a ditadura arrochava violentamente a perseguição a qualquer oposição democrática e popular.
Num esforço para fortalecer aquela entidade, fomos – o Paulinho, o Isaias e eu – à casa de Walter Franco, no bairro paulistano de Vila Nova Conceição. Ele foi amável com aquele banco de garotos que queria mudar o mundo. Não conseguimos o que queríamos – não podíamos pagar pelo aluguer dos equipamentos para um show.
Mas lembro-me de que a conversa foi ótima, o Walter Franco foi paciente e, como se fora um de nós, aconselhou-nos sobre a atuação cultural e política que, dizia, devia ser cautelosa e prudente, mas nunca recuar dos objetivos democráticos.
Reencontrei-o duas décadas depois, em 1992, ocasião em que tentávamos, no PCdoB em São Paulo, criar uma célula de cultura para tentar articular a ação de artistas e intelectuais, da qual participaram o escritor Roniwalter Jatobá e o cantor Jorge Mautner, além do Walter Franco. Topei outra vez com sua proverbial tranquilidade. Falou-me então de seu pai, Cid Franco – que fora do PSB nas décadas de 1950 e 1960 e se tornara amigo do dirigente comunista João Amazonas, a quem Walter Franco se referiu com muito carinho.
Foram ocasiões que fortaleceram, em meu espírito a sabedoria dos nos versos de Coração Tranquilo – nunca curvar-se ante a opressão, nem deixar que ela perturbe o coração.
Texto em português do Brasil