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Domingo, Dezembro 22, 2024

Wayne Shorter | Antes de Miles

José Alberto Pereira
José Alberto Pereira
Professor Universitário, Formador Consultor e Mestre em Gestão

Wayne Shorter destacou-se no final dos anos 50 como compositor e membro dos Art Blakey’s Jazz Messengers. Durante a década de 60, participou no segundo grande quinteto de Miles Davis e foi membro fundador dos Weather Report.

Art Blakey’s Jazz Messengers

Virtuoso do saxofone soprano, muitos uma referência na composição jazz para pequenos grupos do jazz e candidato a melhor improvisador vivo. Muitas das suas composições tornaram-se jazz standards e sua produção discográfica é mundialmente reconhecida, merecendo elogios generalizados e inúmeros prémios. Mas a sua vida pessoal tem sido palco de várias tragédias, como a morte da sua segunda filha ainda adolescente ou o trágico desaparecimento da sua esposa Ana Maria Patrício, natural do Cartaxo, num acidente de aviação em 1996. A todas estas contrariedades Wayne Shorter respondeu com trabalho, criatividade e uma espiritualidade radicada na prática budista. Por isso, mais que um músico é um explorador, um ser humano inteiro que cura na sua música as feridas da existência.

Wayne Shorter nasceu em Newark, Nova Jersey, a 25 de agosto de 1933. Na juventude frequentou a Newark Arts High School, onde se graduou com 19 anos. Desde muito novo que o seu pai o encorajou na música, tocando clarinete desde adolescente e mais tarde trompete e saxofone. Nesses anos tocava pontualmente com a Nat Phipps Band, uma formação local que tocava jazz. Com 23 anos formou-se em educação musical pela Universidade de Nova Iorque e foi para o exército norte-americano, onde passou dois anos. Nesse período tocou com Horace Silver e com Maynard Ferguson, tendo adquirido a alcunha de “Mr Gone”, que posteriormente foi o título de um tema dos Weather Report.

As suas primeiras influências no jazz incluíam Sonny Rollins, John Coltrane e Coleman Hawkins. Em 1959 junta-se aos Jazz Messengers, de Art Blakey, onde permanece quatro anos e chega a diretor musical do grupo. Com os Messengers fez tournées nos EUA, Japão e Europa, compôs inúmeros temas e gravou álbuns aclamados pela crítica, tendo sido classificado a nível nacional e internacional como um dos mais talentosos jovens saxofonistas da sua época.

No início da década de 60, Wayne junta-se à nova formação do trompetista Miles Davis, aquela que ficaria conhecida como o segundo grande quinteto. Sobre a importância de Wayne no quinteto, disse Herbie Hancock:

Para mim, o principal compositor do grupo era Wayne Shorter. Wayne é um mestre. Foi das poucas pessoas que trouxeram músicas que Miles não mudou.”

Já Miles Davis diria sobre ele:

Wayne é um verdadeiro compositor, que escreve as partituras mas também as partes para todos os músicos tal como quer que elas soem. Tem uma espécie de curiosidade em trabalhar com regras musicais. Se eles não funcionam quebra-as, mas com bom gosto e sentido musical. Ele entendeu que a liberdade na música é a capacidade de conhecer as regras, para as modelar à sua própria satisfação e gosto.”

Depois dos ritmos duros e diretos dos Messengers, que realçavam o músculo do saxofone tenor, foi com Miles Davis que encontrou a sua identidade como músico e compositor, explorando novas dimensões emocionais e técnicas.

Wayne manteve-se com Miles até 1970, bem depois do termo do quinteto em 1968. Com Miles gravou álbuns seminais da história do jazz, como “In a Silent Way”, “Bitches Brew” e “Filles de Kilimanjaro”. A partir de 1969, em “In a Silent Way” e no seu disco “Super Nova”, Wayne tocou sobretudo saxofone soprano, relegando o habitual saxofone tenor para um papel secundário. A partir dos anos 70, passou a tocar sobretudo saxofone soprano.

Ao mesmo tempo que participava no quinteto de Miles, Wayne gravou vários 11 álbuns para a Blue Note Records, entre 1964 e 1970. Estes trabalhos incluíam quase exclusivamente temas seus, com grande variedade de alinhamentos, quartetos e big bands, incluindo nomes sonantes do jazz da época, como Freddie Hubbard, Herbie Hancock, Coy Tyner, Elvin Jones, Lee Morgan ou Curtis Fuller. Para além de trabalhos em nome próprio, Wayne participou frequentemente em discos de músicos amigos, como Herbie Hancock, Tony Williamws, Donald Byrd, McCoy Tyner, Grachan Moncur, Freddie Hubbard e Lee Morgan, entre outros.

Wayne Shorter e Miles Davis

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Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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