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Domingo, Novembro 3, 2024

Wayne Shorter | Depois de Miles

José Alberto Pereira
José Alberto Pereira
Professor Universitário, Formador Consultor e Mestre em Gestão

Ainda em 1970 Wayne forma os Weather Report, com o teclista austríaco Joe Zawinul, o baixista checo Miroslav Vitous, o percursionista brasileiro Airto Moreira e o baterista norte-americano Alphonse Mouzon.

Weather Report

Parecia que todo mundo estava reunido para o nascimento da banda de fusão mais relevante da história do jazz. Pouco tempo depois Vitous abandonou o grupo e para o seu lugar entrou um dos mais influentes baixistas da história do jazz, Jaco Pastorius. Jaco e muitos outros músicos criaram para os Weather Report, enriquecendo um super-repertório que inclui funk, bebop, jazz latino, música étnica e muitos outros géneros. Os Weather Report foram e continuam a ser um manancial de inspiração para músicos de jazz de todas as idades e gerações.

Paralelamente ao seu trabalho com os Weather Report, Wyane manteve a sua atividade pessoal, colaborando com músicos como Herbie Hancock, Milton Nascimento, Carlos Santana, Joni Mitchell e os Steely Dan. No final da década de 70 integrou os VSOP, um remake do quinteto mágico de Miles Davis, com Freddie Hubbard no papel do mestre.

Wayne Shorter e Herbie Hancock

Os Weather Report consolidaram Wayne no topo da iconografia jazz: compositor sublime, músico de eleição num instrumento mal-amado (o saxofone barítono), intérprete ecuménico com colaborações em todas as correntes musicais. O jazz de fusão tornou-se a sua bandeira e, quando abandonou o grupo, continuou a compor, gravar e liderar grupos neste domínio. Herbie Hancock, Carlos Santana, o fundador dos Eagles Don Henley, os Rolling Stones, Marcus Miller e até a portuguesa Pilar Homem de Melo, a quem produziu o seu primeiro trabalho discográfico. Surge na banda sonora do filme “O Fugitivo”, com Harrison Ford, grava “High Life” com Marcus Miller para a Verve Records, que foi Grammy em 1997.

A entrada do século XXI encontra Wayne mais ativo que nunca. Gravações, espetáculos, discos e tournées fazem dele um dos artistas mais requisitado do universo jazz. A viragem do milénio traz um novo quarteto, desta feita com o pianista Danilo Perez, o contrabaixista John Patitucci e o baterista Brian Blade. De assinalar que, após a saída de Wayne, esta formação passou a trio com um percurso musical bastante rico e reconhecido. Danilo Perez e John Patitucci, sem Brian Blade mas com Terri Lyne Carrington, estiveram há semanas no Porto, para um concerto memorável na Casa da Música. Já em 2009, Wayne é a estrela do Festival Mundial de Música Gnawa em Essaouira, Marrocos.

“Without a Net”, o seu disco de regresso à Blue Note após 43 anos, é lançado em 2013 para comemorar os seus 80 anos. Imediatamente após o seu lançamento, Wayne e o seu quarteto dão um concerto especial no Carnegie Hall de Nova Iorque, onde executam quatro temas com a Orpheus Chamber Orchestra: “Pegasus” “Prometheus Unbound” “Lotus” e “The Three Marias”. Cada um destes movimentos deriva de uma banda desenhada escrita por Wayne e Monica Sly e ilustrada por Randy DeBurke, inspirada no conceito de multiverso (no qual numerosos universos coexistem em simultâneo) e nos estudos budistas do autor, dominada por Emanon (“noname” ao contrário), um explorador e herói da ação de Wayne, um aficionado de banda desenhada desde criança.

A música, executada pelo quarteto com e sem orquestra e gravada em estúdio e ao vivo em Londres, deu origem a um álbum triplo, que acompanha a banda desenhada de 84 páginas. “Emanon” foi lançado em setembro de 2018, comemorando os seus 85 anos. Foi também o ano em que recebeu o Kennedy Center Honnor, na companhia de Cher, Reba McEntire, Philip Glass e outros. Já este ano, “Emanon” obteve o Grammy de melhor instrumental jazz. Wayne foi recebê-lo de cadeira de rodas, visivelmente enfraquecido mas com o brilho intenso no olhar, algo que significa, nas suas próprias palavras, “Para mim, jazz significa: desafio-te!”.

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Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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