Ainda em 1970 Wayne forma os Weather Report, com o teclista austríaco Joe Zawinul, o baixista checo Miroslav Vitous, o percursionista brasileiro Airto Moreira e o baterista norte-americano Alphonse Mouzon.
Parecia que todo mundo estava reunido para o nascimento da banda de fusão mais relevante da história do jazz. Pouco tempo depois Vitous abandonou o grupo e para o seu lugar entrou um dos mais influentes baixistas da história do jazz, Jaco Pastorius. Jaco e muitos outros músicos criaram para os Weather Report, enriquecendo um super-repertório que inclui funk, bebop, jazz latino, música étnica e muitos outros géneros. Os Weather Report foram e continuam a ser um manancial de inspiração para músicos de jazz de todas as idades e gerações.
Paralelamente ao seu trabalho com os Weather Report, Wyane manteve a sua atividade pessoal, colaborando com músicos como Herbie Hancock, Milton Nascimento, Carlos Santana, Joni Mitchell e os Steely Dan. No final da década de 70 integrou os VSOP, um remake do quinteto mágico de Miles Davis, com Freddie Hubbard no papel do mestre.
Os Weather Report consolidaram Wayne no topo da iconografia jazz: compositor sublime, músico de eleição num instrumento mal-amado (o saxofone barítono), intérprete ecuménico com colaborações em todas as correntes musicais. O jazz de fusão tornou-se a sua bandeira e, quando abandonou o grupo, continuou a compor, gravar e liderar grupos neste domínio. Herbie Hancock, Carlos Santana, o fundador dos Eagles Don Henley, os Rolling Stones, Marcus Miller e até a portuguesa Pilar Homem de Melo, a quem produziu o seu primeiro trabalho discográfico. Surge na banda sonora do filme “O Fugitivo”, com Harrison Ford, grava “High Life” com Marcus Miller para a Verve Records, que foi Grammy em 1997.
A entrada do século XXI encontra Wayne mais ativo que nunca. Gravações, espetáculos, discos e tournées fazem dele um dos artistas mais requisitado do universo jazz. A viragem do milénio traz um novo quarteto, desta feita com o pianista Danilo Perez, o contrabaixista John Patitucci e o baterista Brian Blade. De assinalar que, após a saída de Wayne, esta formação passou a trio com um percurso musical bastante rico e reconhecido. Danilo Perez e John Patitucci, sem Brian Blade mas com Terri Lyne Carrington, estiveram há semanas no Porto, para um concerto memorável na Casa da Música. Já em 2009, Wayne é a estrela do Festival Mundial de Música Gnawa em Essaouira, Marrocos.
“Without a Net”, o seu disco de regresso à Blue Note após 43 anos, é lançado em 2013 para comemorar os seus 80 anos. Imediatamente após o seu lançamento, Wayne e o seu quarteto dão um concerto especial no Carnegie Hall de Nova Iorque, onde executam quatro temas com a Orpheus Chamber Orchestra: “Pegasus” “Prometheus Unbound” “Lotus” e “The Three Marias”. Cada um destes movimentos deriva de uma banda desenhada escrita por Wayne e Monica Sly e ilustrada por Randy DeBurke, inspirada no conceito de multiverso (no qual numerosos universos coexistem em simultâneo) e nos estudos budistas do autor, dominada por Emanon (“noname” ao contrário), um explorador e herói da ação de Wayne, um aficionado de banda desenhada desde criança.
A música, executada pelo quarteto com e sem orquestra e gravada em estúdio e ao vivo em Londres, deu origem a um álbum triplo, que acompanha a banda desenhada de 84 páginas. “Emanon” foi lançado em setembro de 2018, comemorando os seus 85 anos. Foi também o ano em que recebeu o Kennedy Center Honnor, na companhia de Cher, Reba McEntire, Philip Glass e outros. Já este ano, “Emanon” obteve o Grammy de melhor instrumental jazz. Wayne foi recebê-lo de cadeira de rodas, visivelmente enfraquecido mas com o brilho intenso no olhar, algo que significa, nas suas próprias palavras, “Para mim, jazz significa: desafio-te!”.
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