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Quarta-feira, Julho 17, 2024

Woodstock, 50 anos: por que o festival ganhou tanta notoriedade?

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Era para ser mais um evento comercial, numa fazenda de uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos. Mas o Festival de Woodstock transcendeu o tempo e transpôs fronteiras. Permanece vivo no imaginário popular. Nesta quinta-feira (15), comemoramos 50 anos do mais famoso dos festivais. Mas por que Woodstock marcou tanto?

Para a cantora baiana Baby do Brasil, “a força deste evento está na expectativa (que se tinha) de um mundo diferente. Mesmo que o Brasil não tivesse essa abertura, no mundo inteiro ninguém aguentava mais ouvir falar de repressão de guerra” – e de repressão de violência.

Na efervescência dos anos 1960, Woodstock reuniu 32 artistas transgressores, muito afinados à filosofia hippie com o lema “Paz e Amor”, sintonizados com o crescente movimento a favor da paz. Nos Estados Unidos, a juventude se levantava contra a Guerra do Vietnã, que começou em 1956 e terminou com derrota dos norte-americanos em 1975.

Apresentação de Janis Joplin no Festival de Woodstock

O que pensar de um festival de música com os talentos de Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Who, Joe Cocker, Johhny Winter e o grupo Creedence? Impossível não ter empatia. Com esses artistas e quase 500 mil jovens de todos os cantos dos Estados Unidos, reunidos numa fazenda por três dias ouvindo música, mesmo embaixo de chuva e sobre lama, os shows foram memoráveis.

Foi em Woodstock que o maior guitarrista que o mundo já viu, Jimi Hendrix tocou o hino nacional norte-americano marcado com sons de bombas, denunciando a intervenção indevida de seu país no longínquo Vietnã no sudeste da Ásia. Imperdível para quem puder assistir de alguma forma.

Muito provavelmente o sucesso desse festival esteja intimamente ligado ao clima de 1969 no qual a juventude se opunha ao patriarcado, deixava os cabelos crescerem e ganhava as ruas em defesa da paz e da liberdade, contra o preconceito e o ódio. Mesmo com todas as limitações desse movimento, havia uma efervescência cultural que trouxe importantes inovações às artes e às lutas para uma sociedade diferente e melhor para se viver.

O hino nacional dos Estados Unidos na guitarra de Hendrix

O filme Aconteceu em Woodstock (1999), de Ang Lee, se fia à visão do proprietário da fazenda onde ocorreu o festival, Max Yasgur. Para ele, “se nos juntarmos a eles, poderemos vencer adversidades que são um problema para o país atualmente, e ter a esperança de atingir um futuro mais pacífico e brilhante”, sobre a magia das apresentações e a sintonia fina com o público. Clima que transpirava música, arte, cultura. Questões essenciais para a predominância da delicadeza e da generosidade.

Também a canção Lay Down (Candles in the Rain, 1970), de Melanie Safka, revela o orgulho da compositora em ter participado do festival e da sua importância como um dos marcos contra a Guerra do Vietnã.

“We were so close, there was no room
We bled inside each others wounds
We all had caught the same disease
And we all sang the songs of peace”

(Estávamos tão perto, não havia espaço
Sangramos dentro junto com outras feridas
Pegamos a mesma doença
E cantamos as canções de paz)

Lay Down (Candles in the Rain), Melanie Safka

Já Joni Mitchell fez sua homenagem, em 1970, com a bela música Woodstock, onde diz em alguns versos:

“I came upon a child of god
He was walking along the road
And I asked him, where are you going
And this he told me
I’m going on down to yasgur’s farm
I’m going to join in a rock ‘n’ roll band
I’m going to camp out on the land
I’m going to try an’ get my soul free”

(Deparei-me com um filho de Deus,
Ele andava pela estrada
E eu lhe perguntei: “aonde você está indo?”
E ele me disse: “Eu estou indo para o Rancho Yasgur,
Estou indo entrar em uma banda de rock’n roll
Estou indo acampar lá fora na terra
Estou indo tentar libertar minha alma)

Tem ainda a animação brasileira Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’n’roll (2006), de Oto Guerra, baseado em personagens do cartunista Angeli. A obra dá uma noção atualizada da marca indelével do festival nas gerações posteriores.

Assista a Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’n’roll completo

Claros sinais dos porquês de Woodstock permanecer vivo. Por sentir-se nas vibrações de seus acordes o clima de solidariedade, de amor à vida e a clara demonstração da vontade de superar as mazelas de um presente opressor e violento.


Texto em português do Brasil


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