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João de Sousa

Sábado, Dezembro 21, 2024

Yesterday é um filme sobre o hoje e projeta luz no amanhã

Nestes tempos sombrios, o filme Yesterday, de Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?, Steve Jobs Trainspotting), é um bom exemplo de como o cinema tem o poder de refletir sobre o que é importante para se ter uma vida boa. A emoção e a razão se encontram nessa comédia romântica.

Yesterday viaja num mundo de magia ao fazer desaparecer da memória de todo mundo as fundamentais canções dos Beatles. Dá para imaginar o mundo sem os Beatles? Inconcebível, mesmo para quem tem 20 e poucos anos e está longe da efervescência cultural dos anos 1960.

A viagem começa quando um evento estranho deixa somente o protagonista Jack Malik, interpretado por Himesh Patel, com as lembranças das antológicas canções da banda que universalizou o rock e mudou a música popular. Até o último show da banda mais famosa do mundo no alto do edifício da Apple em Londres, em 1969, não fica de fora.

Ao sair do hospital, após se recuperar de um acidente, Malik, que sonhava ser cantor e compositor, ganha um novo violão e canta Yesterday, de Paul McCartney, atendendo aos insistentes pedidos dos amigos. O grupo se emociona e Malik percebe que os Beatles sumiram da memória de todos.

Quarenta e nove anos depois do fim dos Beatles e 39 anos após o insólito assassinato de John Lennon, dá para imaginar o que seria do mundo sem quatro garotos de Liverpool e a sua avassaladora carreira que começou em 1960. A viagem começa a ficar mais hilária quando ele vai pesquisar no Google e não encontra nenhuma das 182 milhões de referências que lá constam sobre a banda.

O filme brinca também com o turbilhão causado pelos Beatles num tempo no qual ainda não existia nem o correio eletrônico nem celular. Facebook, Whatsapp, Twitter, Instagram não faziam parte do vocabulário e da vida de ninguém. Imagine Beatles com tudo isso?

Boyle tenta resgatar a delicadeza, a generosidade, a alegria e a inteligência tão em baixa no final da segunda década do século 21. Tempo no qual prevalece o ódio, a ignorância e a opressão. Trazer as canções dos Beatles à tona em uma fantasia que remete ao processo de tentativa de controle do artista por uma indústria ávida de lucro e mais lucro reforça a importância da banda que encerrou suas atividades em 1970, justamente para não cair na mesmice e se insubordinar ao status quo.

O que seria da humanidade sem cultura, sem artes? Imagine o mundo não conhecer a teoria da relatividade de Einstein, ou a evolução das espécies de Darwin, ou ainda sem o materialismo dialético de Marx.

Imagine o mundo sem filosofia, sem os sonhadores, sem a utopia. Um mundo sem os Beatles seria um mundo sem poesia – e sem poesia é impossível imaginar a vida. Como poderíamos viver acreditando que a Terra é plana e o centro do Universo depois de Copérnico, Galileu e Newton? Essa é a viagem de Yesterday, que começou há milênios, antes ainda de Sócrates, Platão e Aristóteles, e só terminará quando não houver mais vida inteligente no planeta Terra.

Afinal, o que seria de nós sem o amor? O que seria da humanidade sem a arte, o que seria da vida sem o sonho? Yesterday é um filme sobre o hoje para projetar luz no amanhã. E que a arte de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr nos resgatem da escuridão.

Para mostrar a força dos Beatles, Malik avisa aos fãs a verdadeira autoria das canções e, com ajuda de um amigo, baixa todas elas na internet para mostrar que as coisas boas da vida são de graça, como diria Marcelo Jeneci.


por Marcos Aurélio Ruy, Jornalista | Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado


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